Devedores ao físico

Desde que o mundo é mundo todos perseguimos um estereótipo burilado há milénios – o elixir da eterna juventude, a ideia de mente sã em corpo são ou, numa versão mais contemporânea por via de Hollywood, ‘vive depressa, morre jovem e deixa um cadáver sublime’.

Mas a ideia de ser jovem para sempre é de todas a mais forte. Em tempos narcisistas e de individualismo doentio, em que o corpo é espelho de um estatuto e a beleza chega a ser critério principal para tudo, até para arranjar emprego, nada melhor do que exercitar o invólucro com que viemos ao mundo.

Por todo o lado, institutos consagrados à saúde e ao desporto, governos e câmaras municipais entenderam a mensagem e juntaram o culto do corpo à prevenção para uma vida saudável. Podemos esculpir-nos para sermos mais 'competitivos' ou simplesmente ir correr, fazer abdominais, dorsais e outros que tais com o objectivo de nos mantermos saudáveis. Se não jovens por mais tempo, pelo menos com saúde, é o apelo que os equipamentos espalhados pela Grande Lisboa – que estas fotos ilustram – fazem constantemente ao transeunte.

E não vale a pena contorná-los ou passar-lhes por cima sob a batuta da preguiça. E nem a desculpa do preço alto do ginásio à porta fechada serve – em tempos em que salários e emprego parecem conceitos medievais de tão antigos, é absolutamente gratuito passar membros superiores ou inferiores por máquinas como passadeiras, barras verticais, ou aquela espécie de leme de barco em que uma lisboeta teima em esticar-se, como se quisesse alcançar assim a Margem Sul do Tejo (imagem em cima, à esquerda).

E há ainda a hipótese de ignorar todas estas construções insólitas e partir, mas em passo de corrida, em direcção a um futuro. Um qualquer, desde que seja saudável…

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ricardo.nabais@sol.pt