O perigo dos populismos

Gloria Alvarez é uma jovem líder política da Guatemala, bonita e bem-falante, que tem combatido sem tréguas o populismo na América Latina.

Mas as suas críticas ajustam-se hoje perfeitamente aos populismos europeus – que se têm vindo a multiplicar à sombra da crise.

Para Alvarez, a grande clivagem do nosso tempo não é entre 'esquerda e direita', mas entre 'populismo e república'.

Aproveitando-se das dificuldades e do desespero das pessoas, os populistas ganham o poder fazendo promessas impossíveis – e a partir daí dedicam-se a destruir as instituições republicanas, tentando depois impor novos totalitarismos.

O populismo não é de esquerda nem de direita – há populistas de todas as ideologias.

Isso observa-se, aliás, na Grécia, onde a extrema-esquerda e parte da extrema-direita se aliaram para formar Governo, substituindo os partidos moderados.

E são reveladores os elogios que Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, faz ao primeiro-ministro esquerdista grego Alexis Tsipras.

Nesta perspectiva, a satisfação que António Costa mostrou pela vitória do Syriza nas eleições gregas constituiu talvez o seu maior erro político, revelador de uma inesperada falta de consistência ideológica.

António Costa não percebeu logo a ameaça que a vitória do populismo representava para as instituições democráticas (ou republicanas, como diz Gloria Alvarez).

Não percebeu que essa vitória funcionava contra ele, ou seja, funcionava contra os partidos moderados – e, em particular, contra os partidos socialistas e sociais-democratas.

Também foi doloroso ver Mário Soares, um dos 'pais' do socialismo democrático, que em 1975 lutou em Portugal contra o radicalismo comunista, aplaudir entusiasticamente esses populistas gregos que desdenham o socialismo democrático.

Na Grécia, os populistas aproveitaram-se da crise para aliciar as pessoas, mas agora não conseguem cumprir as promessas que fizeram – pela simples razão de que não sabem o que fazer com o poder.

Os primeiros meses de governo do Syriza são bem demonstrativos desta verdade.

Na Europa, ninguém percebe o que eles querem, ninguém entende as suas propostas – e suspeita-se que eles próprios também não.

Em Portugal, a par do Bloco de Esquerda e de uma nuvem de pequenos partidos e movimentos resultantes de sucessivas cisões, também surgiram algumas figuras que fazem do populismo a sua forma de afirmação política.

Paulo Morais e Marinho e Pinto, mas também Sampaio da Nóvoa (numa versão académica) e Henrique Neto (numa versão empresarial) são exemplos de personalidades populistas.

Basicamente, o seu papel resume-se a denegrir as instituições.

Dizem mal dos políticos que existem, atacam os partidos que existem, deitam abaixo o sistema que existe.

Afirmam querer 'regenerar' o sistema democrático.

Mas regenerar como?

Acabando com estes partidos e promovendo a criação de outros?

Correndo com estes políticos e inventando outros?

Destruindo estas instituições e fundando outras?

Será que a vaidade destes D. Sebastiões chega ao ponto de acreditarem que podem fazer tudo isso?

Os partidos populistas que têm surgido na Europa Ocidental com uma expressão razoável – o Syriza, na Grécia, o Podemos, em Espanha, ou a Front National, em França – são hoje o grande perigo que ameaça as democracias.

Os seus líderes tentam os eleitores como a serpente tentou Eva – e estes, incautos ou desesperados, vão atrás.

Mas, como esses partidos não têm projectos exequíveis em democracia, o seu único objectivo acaba por ser derrubar as instituições existentes – e depois logo se vê…

É este o 'programa' dos populistas.

Que está perfeitamente claro, por exemplo, no livro de Pablo Iglesias Disputar a Democracia, agora publicado em Portugal.

Não há nenhuma ideia estruturada para lá da destruição deste modelo de sociedade.

Ora, as instituições que temos não são perfeitas – mas deram muito trabalho a construir.

E em nenhuma parte do mundo o seu derrube conduziu a uma sociedade melhor.

Assim, o caminho certo não é desacreditar as instituições e reduzi-las a escombros – mas sim aperfeiçoá-las.

Não é destruir o sistema – mas sim melhorá-lo.

Os que, em nome de uma melhor democracia, de uma maior participação das pessoas, de uma mais perfeita representação do povo, se propõem deitar fora as actuais instituições, apenas querem uma coisa: alçar-se ao poder para depois governarem sem o controlo de ninguém.

Livremo-nos deles!

P.S. – Marcelo Rebelo de Sousa dizia há uns dois meses, no seu habitual comentário, que António Costa estava a gerir “magistralmente” (sic) a questão dos candidatos presidenciais, enquanto Passos Coelho só cometia erros. Tem-se visto…