Peritos da ONU criticam resposta europeia à crise do Mediterrâneo

Os responsáveis das Nações Unidas criticaram a resposta da União Europeia à crise no Mediterrâneo, considerando que deve haver um plano abrangente para instalar os refugiados e não apenas um enfoque na protecção de fronteiras.

"Destruir barcos é só uma solução de vistas curtas" para combater os traficantes, "que vão continuar a adaptar-se enquanto houver um mercado para explorar", disseram na sexta-feira, num comunicado conjunto, os especialistas das Nações Unidas em direitos dos migrantes e tráfico humano Francois Crépeau e Maria Grazia.

Para além das críticas à falta de um plano abrangente de instalação de refugiados, os peritos da ONU referem ainda que o financiamento de emergência pode não ser suficiente se o número de migrantes e de pessoas que pedem asilo e que chegam por via marítima continuar a aumentar.

"A União Europeia tem de ir além do modo de emergência e desenhar uma política mais abrangente que inclua uma política abrangente de realojamento nos próximos cinco a seis anos para acolher todos aqueles que precisam de protecção internacional e oferecer soluções duradouras para eles e para os seus descendentes", consideram os peritos da ONU.

A União Europeia deve ainda, concluem, "reconhecer as suas necessidades no mercado de trabalho de baixo custo, e deve rapidamente abrir muitas mais 'avenidas legais de migração' para mais imigrantes com todos os níveis de qualificação".

A situação trágica no Mediterrâneo, com a morte de 800 imigrantes no passado dia 19, levou os líderes da União Europeia (UE) a adoptarem quinta-feira medidas de combate ao tráfico de imigrantes ilegais ainda em terra.

Entre as decisões saídas do Conselho Europeu figura a destruição das embarcações antes que os contrabandistas as possam utilizar, o aumento da cooperação contra redes de contrabando, através da Europol e colocando agentes de imigração em países terceiros e aumentar para 120 milhões de euros o orçamento da missão "Tritão", para operações de patrulhamento e salvamento no Mediterrâneo.

O tema dos fluxos migratórios volta à agenda da cimeira a realizar em Junho.

A reunião de Bruxelas surgiu depois de várias associações e líderes políticos terem apelado ao combate a nível europeu contra as "criminosas" redes de tráfico de imigrantes.

Só no ano passado, vários milhares de pessoas morreram a tentar chegar à Europa através do Mediterrâneo, naquela que as Nações Unidas descreveram como uma das rotas mais perigosas do mundo.

Cerca de 170 mil pessoas chegaram a Itália em 2014 depois de resgatadas pela marinha, guarda costeira ou navios mercantes.

Lusa/SOL