A última top model

Foi o corpo, o mesmo que nas últimas duas décadas a projectou para um sucesso à escala mundial, que terá dito a Gisele Bündchen que era hora de parar. “Aprendi a sentir o meu corpo. O meu corpo diz-me se o que faço vale a pena, e ele pediu para parar. Eu respeito-o e como…

A última top model

A despedida aconteceu no passado dia 15 de Abril, no mesmo evento onde a modelo desfilou pela primeira vez, a Semana da Moda de São Paulo, e para a marca brasileira Colcci, da qual é o rosto desde 2005. “Sinto-me muito grata por ter tido a oportunidade, aos 14 anos, de iniciar esta jornada. Hoje, após 20 anos nesta carreira, é um privilégio estar a fazer o meu último desfile por opção própria”, declarou, enquanto se preparava para subir à passerelle.

No final do desfile, com o marido, a estrela do futebol americano Tom Brady, na plateia, foi ovacionada de pé e o rasgado sorriso acabou por se transformar num semblante emocionado. “Quero agradecer a todos os meus fãs, em todo o mundo, e a toda a gente que me dedicou mensagens de carinho e apoio. Sinto-me profundamente tocada. Amo-vos a todos. Obrigada por terem tornado este dia ainda mais especial”, escreveu no seu Facebook, no dia seguinte.

Apesar de todas as declarações emocionadas, a verdade é que este está longe de ser um 'adeus, até sempre'. A top model brasileira assegurou que vai “continuar a trabalhar noutras áreas da indústria da moda e criar espaço para outros projectos” e até põe a hipótese de aparições esporádicas em alguns desfiles. No fundo era o que já acontecia, uma vez que nos últimos anos Gisele participava num número bastante reduzido de desfiles, para marcas muito específicas, como a Chanel.

Mas, segundo a própria, esta decisão prende-se com um outro factor: o desejo de se dedicar mais à família, nomeadamente aos filhos Benjamin, de cinco anos, e Vivian, de dois, fruto da relação com Tom Brady, com quem casou há seis anos, depois de ter namorado com o actor Leonardo DiCaprio. “Quero criar espaço para estar com a minha família”.

Para os seguidores de Gisele, este desejo de uma vida mais tranquila e recatada não terá sido uma completa surpresa. Afinal, ainda em Fevereiro, a modelo disse numa entrevista à Vogue: “A minha memória mais antiga tem a ver com ir para casa da minha avó, ordenhar as vacas e recolher os ovos no galinheiro. Se pudesse escolher andava sempre de pés descalços, rodeada de animais e a viver numa casa na árvore. Tal e qual o Tarzan e a Jane. Esse é o meu sonho. Rodeada pela natureza é como me sinto feliz”.

O que é que a Gisele tem?

Tal como o nome indicia, Gisele Caroline Bündchen tem origens alemãs. Nascida em Horizontina, no Sul do Brasil, a 20 de Julho de 1980, em 1993 foi tirar um curso de modelo juntamente com duas das suas cinco irmãs, e um ano depois foi abordada por um scouter da Elite enquanto passeava num centro comercial em São Paulo. Acabou seleccionada para participar no concurso Elite Model Of The Year e, apesar de não ter vencido, acabou por se mudar para São Paulo. Tinha apenas 14 anos. Nesse mesmo ano desfilou, pela primeira vez, na Semana da Moda daquela cidade, e apenas dois anos depois já estava na Semana da Moda de Nova Iorque.

Em 1997 viajou até Londres, onde teve a grande oportunidade da sua vida ao ser escolhida para desfilar para Alexander McQueen. O designer de imediato a apelidou de 'O Corpo' – título outrora pertencente a Elle McPherson – o que garantiu a Gisele vários trabalhos, bem como a sua primeira capa da Vogue inglesa. Foi nesta altura que, do outro lado do Atlântico, a poderosa editora da Vogue americana, Anna Wintour, reparou na jovem brasileira de quem todos falavam e a escolheu para capa da revista, com o título 'The Return of the Sexy Model', declarando em simultâneo o fim da era heroin chic, protagonizada por modelos como Kate Moss. Claudia Schiffer e Naomi Campbell dizem de Gisele que é a “última das verdadeiras top models”.

Com um andar firme e corpo definido, 1,80 metro e 53 quilos, Gisele Bündchen trabalhou com as maiores marcas e os mais destacados profissionais do mundo da moda. Todos lhe apontam o profissionalismo e o empenho, o estilo de vida saudável e a defesa de causas humanitárias – Gisele é Embaixadora das Nações Unidas na área do ambiente, além de estar envolvida com outras entidades que procuram erradicar a fome no Brasil.

Uma máquina de fazer dinheiro

Durante sete anos foi imagem da Victoria's Secret e, em 2000, desfilou a mais valiosa peça que a marca alguma vez produziu: um soutien avaliado em 15 milhões de dólares. Sem excepção, as marcas de que foi imagem aumentaram consideravelmente as suas vendas. É o caso da cadeia C&A. Entre 2001 e 2005, anos em que Gisele foi o rosto da marca, as vendas cresceram 30%.

Em 2007, o americano Fred Fuld criou o Gisele Stock Index – composto pelas acções de empresas que têm contratos com ela. Desde então, o índice subiu 105%, contra os 37% do Dow Jones, um dos principais indicadores da Bolsa de Nova Iorque. Contas reforçadas pelo ranking da Forbes. De acordo com a revista americana, Gisele é a modelo mais bem paga do mundo desde 2004. Só no ano passado facturou 47 milhões de dólares, tendo actualmente uma fortuna pessoal avaliada em 430 milhões de dólares (400 milhões de euros). Daqui para a frente, tudo indica que este valor continuará a aumentar, uma vez que, apesar de afastada das passerelles, Gisele Bündchen não vai deixar o trabalho.

raquel.carrilho@sol.pt