Franceses da PT estudam venda do Sapo

Altice tem de vender a Oni e a Cabovisão por imposição de Bruxelas, mas está também a analisar activos não-estratégicos onde possa desinvestir. Estrutura de custos pesada pode colocar o portal da internet na lista de negócios a alienar.

O processo de venda da PT Portugal vai conhecer em breve novos desenvolvimentos. A Comissão Europeia autorizou esta semana a francesa Altice a comprar a dona do Meo, com a condição de vender os negócios da Oni e da Cabovisão. E os planos estratégicos para a operadora poderão também passar pela venda do Sapo.

O SOL sabe que o grupo de Patrick Drahi está a estudar a possibilidade de alienar o portal líder na internet em Portugal. O principal argumento para o desinvestimento é a pesada estrutura de custos do negócio, que emprega cerca de 300 colaboradores.

O Sapo assinala, este ano, duas décadas de história. O portal agrega várias dezenas de sites e recebe cerca de um milhão de visitas diárias. Actualmente, está  em Portugal, Angola, Cabo Verde, Moçambique e Timor-Leste.

Venda no 2.º semestre

Segundo disse ao SOL fonte próxima do processo, a Altice não descartará avançar, numa primeira fase, com uma reestruturação do Sapo para optimizar as estruturas e conseguir um maior encaixe financeiro com a venda do activo. Questionada sobre o assunto, a Altice não fez qualquer comentário até ao fecho da edição.

A alienação do Sapo, com a actual estrutura ou após uma reestruturação, só poderá ocorrer no segundo semestre do ano.

Em declarações ao SOL, fonte oficial da Direcção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia (DGCom) explica que a Altice só poderá concretizar a operação após a conclusão do negócio com a PT Portugal. «Quando a concentração for concluída, a Altice pode vender o Sapo se estiver disposta a fazê-lo». E acrescenta: «Esta operação seria, evidentemente, sujeita às aprovações regulamentares obrigatórias».

O grupo francês quer ter a compra da PT Portugal fechada até ao Verão. Por isso, qualquer reestruturação mais significativa nos activos da PT só deverá avançar no segundo semestre do ano, o que não impede o grupo francês de começar já a analisar as alternativas.

Para acelerar a autorização de Bruxelas e eliminar as preocupações quanto à concorrência, a Altice propôs-se vender as suas filiais portuguesas Cabovisão e Oni. No entender da Comissão Europeia, os compromissos estruturais «eliminam totalmente a sobreposição das actividades da Altice e da PT em Portugal, pelo que respondem adequadamente à preocupação inicial em termos de concorrência», lê-se no comunicado de Bruxelas. O Sapo não entrou na análise da DGCom.

Fonte oficial deste organismo de Bruxelas recorda que a Comissão Europeia irá acompanhar o processo de venda de activos e poderá intervir. «Não há um prazo estipulado para que a empresa implemente os desinvestimentos, já que isso vai depender de uma série de factores, como encontrar um comprador adequado, concordar com as condições».

Interessados naturais

A Altice já terá recebido manifestações de interesse pela Oni e pela Cabovisão, e terá tido contactos informais com a Vodafone Portugal. A operadora liderada por Mário Vaz não quis comentar. Além da Vodafone, os actuais operadores no mercado nacional são os interessados naturais nas duas empresas que têm de ser vendidas. Por isso, também a Nos está atenta às alterações no mercado de telecomunicações. Na corrida estarão outros operadores e também um fundo de investimento.

Margrethe Vestager, comissária europeia responsável pela Concorrência, esclareceu a importância da venda da Oni e da Cabovisão: «O que pretendo é garantir que a concentração não leve ao aumento dos preços nem à redução da concorrência para os consumidores portugueses».

Na prática, a Comissão temia que a entidade resultante da concentração se visse confrontada com uma pressão concorrencial insuficiente por parte das restantes empresas no mercado das telecomunicações fixas, o que poderia traduzir-se em aumento de preços para os clientes.

 A Altice entrou em Portugal com a compra da Cabovisão em 2012 e um ano depois adquiriu a Oni – o investimento total ascendeu a 120 milhões de euros. O grupo francês estabeleceu como objectivo ser um dos operadores líderes em Portugal. Com a compra da PT Portugal à Oi, passa de player secundário a líder de mercado. A empresa tem agora operações em nove geografias.