A culpa não é do mordomo

Uma conta na Suíça em nome do seu antigo mordomo Gérald Gérin no valor de 2,2 milhões de euros – dos quais 1,7 milhões em barras e moedas de ouro – levou a que o antigo líder da extrema-direita francesa Jean-Marie Le Pen fosse sinalizado pela Tracfin, agência do Estado que investiga lavagem de dinheiro…

Criada em primeiro lugar no banco HSBC, a conta passou para outra entidade bancária, CBH, até que em Maio do ano passado a dita foi fechada e os fundos foram transferidos para as Baamas. O antigo assistente pessoal de Le Pen, que faz parte do comité central da Frente Nacional e é tesoureiro de duas associações de financiamento ao partido (Cotelec e Promelec), afirmou à Mediapart, site noticioso, que não era beneficiário do fundo e que iria pedir explicações a Le Pen. Já este reagiu vitimizando-se. “Faz parte de uma ofensiva geral lançada contra nós. Não tenho de dar explicações sobre o que dizem órgãos parapoliciais encarregados de semear a confusão na classe política”, disse à France Inter. 

Outra estratégia esteve reservada para o encontro anual que a Frente Nacional promove no 1.º de Maio, em honra de Jeanne d'Arc. A filha Marine, líder da FN, optou por não dar tempo de antena ao presidente honorário do partido. É o mais recente capítulo da discórdia familiar. No princípio de Abril, o octogenário reafirmou que as câmaras de gás usadas pelos nazis são “um detalhe”, e chamou o primeiro-ministro Manuel Valls de “imigrante”. A filha acusou-o de “suicídio político” e Jean-Marie acabou por retirar a sua candidatura às eleições regionais.

Mas ontem, apesar de ter sido afastado da tribuna instalada na Praça da Ópera de Paris, acabou por se deslocar ao local. Seguiu a filha até ao palanque, e abriu os braços para a multidão enquanto esta se preparava para discursar. Instantes depois desceu da tribuna, sem nunca ter olhado para Marine e sem ter ficado para a ouvir.

Ao Le Monde elementos do partido asseguraram que a sua aparição não estava prevista.

cesar.avo@sol.pt