António Costa e o milagre em Camp Nou

Pode parecer coincidência mas não é. A insistência de António Costa em dar entrevistas em dias de grandes jogos de futebol é propositada e tem sentido. Não pode ser de outra forma, pois só assim se justifica o chorrilho de contradições que Costa insiste em cair.

Ainda o Barcelona não tinha marcado o primeiro golo e António Costa já goleava no disparate. Quer mexer nos escalões do IRS, diz, para “aumentar a sua progressividade e reduzir o encargo fiscal sobre o trabalho” ao mesmo tempo que, com toda a segurança, afirma não prever “grandes alterações do ponto de vista fiscal”.

Nem mesmo a magnifica finta de Messi a Boateng faz esquecer o mundo imaginário de Costa. Repete vezes sem conta a expressão que memorizou para tentar ser credível. “Nenhum compromisso vamos assumir se não tivermos condições de cumprir” e embalado por uma desmarcação de José Alberto Carvalho começa a falar na sobretaxa do IRS que é “para eliminar” mas que ao mesmo tempo, reconhece, vai ter de a manter por mais dois anos para que se cumpram as regras europeias.

O Barcelona já ganhava por 1-0 mas nem isso fez descansar Costa. Podia estar sob o efeito de uma espécie de nervosismo patriótico na expectativa de que o Barça vingasse o FC Porto. Mas não. O embalo continuou. Costa não estava para brincadeiras e queria resolver o jogo logo ali. Mas a sua pontaria não é a de Messi nem a de Neymar e as bolas ao poste foram mais que muitas.

Achou por bem falar na TAP mostrando-se contra o processo de privatização. Até aí tudo bem. As diferenças ideológicas são sempre respeitáveis. Mas o problema aparece quando diz que impossibilitadas todas as hipóteses de uma capitalização publica, uma ideia notável para quem quer poupar os contribuintes a mais esforços financeiros, a solução deveria passar por uma dispersão em bolsa de parte do seu capital. Como? Isso mesmo, o leitor percebeu muito bem…

Pelo meio da entrevista, Costa, como um bom jogador de futebol português, ainda teve oportunidade de lançar uns olhares e uns protestos, tímidos é certo, ao árbitro Alberto Carvalho. Volta a referir que a liberdade de imprensa é uma das grandes conquistas de Abril, mas o sms que enviou ao jornalista do Expresso é um não assunto. Melhor, é o “direito à indignação”.

O Barcelona esmagou o Bayern em 15 minutos. Costa, numa hora, goleou na contradição e no disparate. Nós ficámos a perceber que com ele, daqui a uns meses, não passamos a eliminatória.