A liberdade de imprensa de António Costa

António Costa deve ser, seguramente, um dos cinco políticos com mais espaço de antena para dizer o que pensa sobre tudo e todos. Há muitos anos que tem canal aberto para julgar o carácter de quem não conhece, para se calar quando o assunto não lhe interessa, para colocar em causa os poderes judiciários ou…

Juntamente com Marcelo Rebelo de Sousa, Jorge Coelho, Santana Lopes, Marques Mendes ou Pacheco Pereira, além de muitos outros, goza do privilégio de saltar de cargos públicos para o de comentador.

Apesar de haver quem questione essa legitimidade, alegando que, no fundo, os políticos comentadores têm sempre interesses no que comentam, em momento algum, que se saiba, António Costa recebeu tamanho insulto como o que dirigiu ao director-adjunto do Expresso, João Vieira Pereira. Este tinha-se limitado numa crónica de opinião a dizer o que pensa das propostas anunciadas por um grupo de economistas que farão parte do programa eleitoral do PS. Costa não gostou que Vieira dissesse que o anunciado previa 'desvios do PS à direita' e toca de lhe enviar um sms: “Hoje, a coberto da confusão entre liberdade de opinar e a imunidade de insultar, essa profissão respeitável é degradada por desqualificados, incapazes de terem uma opinião e discutirem a dos outros, que têm de recorrer ao insulto reles e cobarde para preencher as colunas que lhes estão reservadas. Quem se julga para se arrogar a legitimidade de julgar o carácter de quem não conhece?”.

Como alguém notava, o insulto revela mais sobre quem o faz do que sobre aquele a quem é dirigido… António Costa mostra como convive mal com as críticas e como será a sua relação com a comunicação social quando chegar ao poder. 
Além de revelar a sua noção de liberdade de imprensa – o líder do PS não tem de concordar com as análises dos jornalistas e pode e deve, se assim o entender, rebatê-las ou criticá-las -, Costa sabia que estava a colocar o seu irmão, director do Expresso, em maus lençóis. Em primeiro lugar, João Vieira Pereira é um dos directores-adjuntos do seu irmão, e dizer que essa pessoa não tem carácter, que é desqualificada e cobarde, não lhe fica bem. É, no mínimo, embaraçoso. Em segundo, Costa participa há muitos anos num programa televisivo do grupo que detém o Expresso. Achará Costa que o grupo protege pessoas sem carácter?

P. S. O que seria se as palavras que António Costa dirigiu a João Vieira Pereira tivessem sido proferidas por alguém ligado ao Governo? Teriam merecido tão tímida cobertura mediática? Duvido… 

vitor.rainho@sol.pt