Mad Max. Loucura sobre rodas

Mad Max: Estrada da Fúria estreou-se em Cannes e agora nas salas nacionais. Este sim, velocidade furiosa, violência e acção demencial a rodos.

No futuro pós-apocalíptico de Mad Max: Estrada da Fúria não há muito espaço para a religião ou sequer para a espiritualidade. A páginas tantas uma das jovens mulheres do harém de Immortan Joe, o ditador da Cidadela, põe-se a rezar, para espanto das outras. «Para quem estás a rezar?», perguntam-lhe. «Para quem me ouvir», responde. Mas onde a lei do mais forte impera é Immortan Joe o endeusado – controla a água, ou a Aqua Cola, e também e com isso a Wasteland – e presta-se culto obrigatório aos motores V8 e aos volantes (que formam um altar quando não estão em uso pelo exército de condutores tresloucados, os war boys, rapazes da guerra, uma espécie de mortos-vivos). 

A palavra de ordem é sobreviver. É isso que Max Rockatansky faz – e em grande estilo. Assombrado pelo passado e pela morte dos mais próximos, o antigo polícia só traz consigo o blusão de cabedal, o carro e as alucinações. Até aqui nada de novo, é o que de certa forma encontramos na trilogia. Só que George Miller, o australiano que trocou a medicina pelo cinema, após ter produzido e realizado sucessos comerciais e respectivas sequelas de filmes para toda a família como Babe e Happy Feet, voltou ao mundo sujo e poeirento de Mad Max a toda a brida. 

Se o filme fosse um automóvel dir-se-ia que Miller tinha submetido o dito a um violento processo de tuning ao motor. Durante os 120 minutos haverá alguns, poucos, e já contando com os créditos finais, em que não decorra uma frenética cena de acção. 

Este Max (Tom Hardy) distingue-se do celebrizado por Mel Gibson por quase não falar: murmura e resmunga. A comunicação verbal parece uma perda de tempo que pode ser fatal. Capturado pelos war boys, é usado como dador de sangue – é o 'Saco de Sangue' para Nux (Nicholas Hoult), um dos condutores que saem em perseguição ao camião em fuga conduzido por Imperator Furiosa (Charlize Theron). 

Levado por Nux na frente do Chevrolet, Max acaba por se juntar ao grupo de mulheres em fuga. Furiosa rebela-se contra o amo e com ela leva as jovens parideiras – cuja beleza contrasta com a imundície e a demência que as rodeia – forçadas a procriar para trazer ao mundo um herdeiro «perfeito». É que os outros dois filhos de Immortan são Rictus Erectus (Nathan Jones), um homenzarrão com cérebro de amendoim, e Corpus Colossus, um homem num corpo de bebé.

Max e Furiosa fazem um improvável par, sem pinga de romantismo, mas solidários na desgraça. E na única conversa digna desse nome entre ambos, Max revela a desesperança que o subjuga, para depois, pelos actos que se seguem, se desdizer.

Estrada da Fúria é sobretudo uma extraordinária produção, uma actualizada coreografia da violência em alta velocidade. George Miller reuniu uma equipa à prova de choque e não hesitou em usar soluções inovadoras (as cenas de acção, no deserto do Namibe, foram filmadas por um automóvel construído para o efeito e dirigido por controlo remoto). A ausência de originalidade no argumento é compensada com outros atributos e este é um digno sucessor dos dois primeiros filmes da série.

cesar.avo@sol.pt
 

Mad Max: Estrada da Fúria

De George Miller, 
com Tom Hardy, 
Charlize Theron