Maioria tira tapete ao bloco central

«Não há, no actual contexto, nenhuma hipótese de um governo juntando CDS, PSD e PS poder sequer funcionar». A resposta do primeiro-ministro em entrevista ao SOL deita por terra a hipótese de um bloco central depois das legislativas. E afasta a ideia defendida nos últimos dias por Vítor Bento, Eduardo Catroga e Carlos Moedas de…

Maioria tira tapete ao bloco central

Nos partidos da coligação, o discurso que se prepara para a campanha é o da dramatização da maioria absoluta. Depois de Belém ter deixado claro que Cavaco não dará posse a um governo minoritário, o tema da estabilidade governativa tornou-se ainda mais importante. E ninguém quer sequer admitir para já a possibilidade de acordos com António Costa.

A estratégia de dramatizar a maioria absoluta está já bem afinada nas direcções de PSD e CDS. «É um erro político estar agora a falar em acordos», aponta um vice-presidente do PSD, que acredita haver hipóteses de a coligação «ganhar com maioria absoluta». «A coligação é para ganhar. Não é para perder», reforça um membro da direcção de Paulo Portas.

A ideia de que a direita tem condições de ganhar tem sido reforçada por sondagens – como a de ontem no Correio da Manhã, que dá um empate entre PS e PSD/CDS. Ainda assim, a cautela obriga a manter em aberto todos os cenários e, em off, ninguém é tão peremptório como Passos a afastar a possibilidade de entendimentos – de governo ou de incidência parlamentar – com os socialistas.

«É impossível colocar qualquer hipótese fora da equação», defende um membro da direcção da bancada parlamentar do PSD. «Confundir uma hipótese com uma manifestação de vontade é um erro», adverte, porém, um membro da direcção de Passos Coelho. 

No CDS, o pensamento é semelhante. «Logo se verá», atira um vice-presidente centrista, lembrando que o acordo pré-eleitoral com o PSD não amarra o CDS em caso de derrota da coligação. «Vamos juntos a votos para governar, em oposição não faz sentido estarmos juntos». A possibilidade de o CDS vir a fazer acordos com o PS não está, teoricamente, afastada. Mas este dirigente centrista considera-a remota. «Sou contra, por uma questão de coerência política», assume, lembrando que foi o próprio António Costa o primeiro a afastar o cenário de um bloco central. «Não foi António Costa que disse jamais ao bloco central? Então, o assunto está arrumado», acrescenta um deputado social-democrata.

Acordos sobre políticas não estão fora de hipótese
Ainda assim, há na direcção do PSD quem como Vítor Bento, Catroga e Moedas veja o PS a aproximar-se do centro nas ideias económicas. «Isso parece-me uma evidência», comenta um vice-presidente social-democrata, que acha, no entanto, que essa aproximação deve ser usada não para governar, mas para entendimentos sobre reformas concretas. 

Uma delas será a Segurança Social, onde este dirigente do PSD diz ser agora claro «que o PS está aberto ao plafonamento» e que isso poderá ser o caminho para um pacto de regime sobre uma matéria que será essencial na próxima legislatura.

«Haja maioria absoluta ou não, vamos ter de nos entender na Segurança Social», reforça outro vice-presidente do PSD.

margarida.davim@sol.pt