Bloco tentou que Carvalho da Silva não desistisse

BE envolveu-se ao mais alto nível na candidatura do ex-líder da CGTP a Belém, tentando até ao último instante travar o ‘não’. «Foi o pior que podia acontecer ao BE», desabafa um dirigente bloquista. O apoio a Nóvoa está também afastado e o BE olha para as suas fileiras.   

Bloco tentou que Carvalho da Silva não desistisse

O BE não queria acreditar na desistência da Manuel Carvalho da Silva da corrida a Belém. O partido envolveu-se ao mais alto nível na possível candidatura do ex-líder da CGTP, garantindo-lhe o seu apoio até antes das legislativas – em sentido contrário ao que vem defendendo publicamente:  que as presidenciais só serão discutidas depois de Outubro. 

«Foi o pior que podia acontecer ao BE», desabafa um dirigente ao SOL. «O avanço de Carvalho da Silva unia o partido em torno de um nome para Belém e dava ao BE a possibilidade de apoiar um candidato forte, como dificilmente encontrará nas suas fileiras», acrescenta. 

Catarina Martins e José Gusmão reuniram várias vezes com Carvalho da Silva, inclusive na véspera do anúncio (dia 7, à Lusa) de que o protocandidato não iria tomar o seu lugar na corrida à sucessão de Cavaco Silva. «Eu manifestei disponibilidade mas nunca me inscrevi na corrida, nem me coloquei na linha de partida. Mas isso não vai acontecer, não vai haver uma candidatura minha à Presidência da República», afirmou, desfazendo, deste modo, o tabu alimentado durante vários meses. 

Nestes encontros, a porta-voz do BE e o dirigente nacional do partido insistiram que Carvalho da Silva tinha espaço para avançar, mesmo depois da antecipação de António Sampaio da Nóvoa – com quem tentou um entendimento para uma candidatura única à esquerda, segundo o Expresso – e da recusa do PCP de apoiar um candidato que entregou o seu cartão de militância no partido. 

Para os bloquistas, o mais do que provável apoio do PS a Sampaio da Nóvoa irá obrigar o ex-reitor da Universidade de Lisboa a inflectir para o centro e, assim, afastar o eleitorado à esquerda do PS, que passaria a rever-se na candidatura do ex-líder da CGTP. Além disso, alegaram os bloquistas, a máquina do BE – que não sendo grande, estaria unida – estava pronta para trabalhar para o ex-sindicalista e para angariar apoios nas distritais e nos movimentos sociais e sindicais próximos do BE. 

Nada disso, porém, convenceu Carvalho da Silva. «Tenho consciência de que tenho a simpatia e o apoio de muitos portugueses, mas daí até ter uma estrutura organizada capaz, sem contar com apoios partidários, não é fácil», sublinhou à Lusa. 

Na ronda de reuniões que fez com vários sectores e putativos apoiantes chegou à conclusão de que o seu avanço não teria o embalo necessário e acabaria por ficar demasiado colado ao Bloco de Esquerda. «Defraudei alguns amigos», admitiu ao Expresso, depois da reflexão que fez com colaboradores, amigos e dirigentes de outras forças políticas, como os da Fórum Manifesto de Ana Drago e de Daniel Oliveira, que integra a candidatura às legislativas Livre/Tempo de Avançar. 

Louçã e Pureza desejados 
Na Mesa Nacional de domingo (três dias depois do 'não' do ex-sindicalista) os eleitos ao órgão máximo entre Convenções do BE fizeram um voto de silêncio sobre a desistência de Carvalho da Silva, que acreditavam teria sido o elemento exterior que faltava para arrumar a casa antes de umas eleições que são de má memória para os bloquistas, depois do apoio do partido a Manuel Alegre, nas presidenciais de  2011. 

A discussão sobre o apoio do BE na corrida a Belém não está oficialmente em cima da mesa. Mas para já há uma certeza entre os correntes maioritárias do BE: Sampaio da Nóvoa não irá receber o apoio dos bloquistas, mesmo que, aqui e ali, as correntes minoritárias defendam que seria útil ao partido apoiar já alguém que parece capaz de forçar um candidato da direita a uma segunda volta. 

A ordem para não alimentar o debate público sobre as presidenciais está reforçada. O BE vai aguardar que os candidatos se posicionem. Além disso, sublinha um destacado militante, «é preciso esperar para ver o quadro político que sai das legislativas». Da sede da Rua da Palma só deverá sair uma posição oficial do partido sobre as presidenciais depois de Outubro, mesmo que nos corredores já se faça um levantamento dos nomes que poderiam ser apresentados aos portugueses se o BE ficar obrigado a olhar para as suas fileiras. 

Francisco Louçã e José Manuel Pureza são os mais citados. Marisa Matias, apoiante de primeira hora de Carvalho da Silva, está também entre os nomes desejados. Mas estará mais concentrada num futuro não tão imediato. 

ricardo.rego@sol.pt