A crise de Macau

O crescimento económico abranda na China, depois de vários anos a crescer acima de 10%. É normal, embora vá frustrar as expectativas de milhões de chineses, que contavam com uma constante e forte subida anual do seu nível de vida. Frustração susceptível de causar alguns problemas ao Partido Comunista Chinês, que de comunista tem pouco,…

Entretanto, o pequeno território de Macau (600 mil habitantes), que passou da administração portuguesa para a chinesa em 1999, atravessa uma crise de natureza específica e muito diferente do resto do território da China. O Presidente chinês Xi Jinping, no poder há dois anos, lançou uma campanha contra a corrupção. Ora um efeito indirecto desta campanha de moralização política foi reduzir o enorme volume de dinheiro envolvido no jogo em Macau.

Os chineses têm a paixão do jogo, das apostas. Mas os casinos de Macau também serviam para milionários da China desviarem dinheiro do país e lavarem fundos obtidos em negócios ilegais. 

Em 2004 Stanley Ho deixou de ter o monopólio dos casinos de Macau. A partir daí, as receitas do jogo subiram de 5 para 45 mil milhões de dólares em 2013 – sete vezes mais do que as receitas registadas nesse ano no jogo em Las Vegas. E o número de visitantes em Macau chegou no passado a quase 32 milhões (cerca de metade proveniente da China), o dobro do verificado em 2005.

Este fulgurante sucesso já começou a abrandar. O Presidente Xi Jinping instruiu as autoridades de Macau para vigiaram apertadamente o jogo. E foram tornados mais restritivos os vistos para entrar no território e as licenças para emitir cartões de crédito. 

Por isso o sector dos casinos fechou o ano passado com prejuízo, o primeiro desde que existem registos. Os casinos rendem hoje quase metade do que rendiam ainda há dois anos. O PIB de Macau, que havia praticamente duplicado desde 2010, teve em 2014 uma descida de 0,4%. 

Macau é ainda um dos locais mais ricos do mundo. Mas precisa de encontrar alternativas de crescimento – este não pode assentar apenas no jogo dos casinos, sob pena de um continuado declínio na riqueza do território.

Em Las Vegas apenas cerca de metade da riqueza tem origem no jogo; a outra metade vem de espectáculos, zonas de diversão, etc. Ora em Macau, até há pouco, os casinos representavam entre 88 e 99% dos rendimentos do território. Percentagem impossível e indesejável de manter.

Segundo o correspondente do Financial Times em Macau (de cujo trabalho retirei alguns dados referidos neste artigo), a população local encara o futuro com calma, acreditando que poderá diversificar as suas fontes de riqueza, o que será positivo. 

Para já, o desemprego no território é inferior a 2% da população activa. E continuam a construir-se grandes complexos turísticos. Porque é no sector do turismo não voltado apenas para jogar nos casinos que está o futuro da economia de Macau. Espectáculos, exposições, congressos científicos, literários e outros, zonas de lazer e contacto com a natureza, etc. – a diversificação das actividades económicas em Macau passará por aí. 

Claro que as novas actividades não darão os fabulosos lucros do jogo. Os hotéis de Macau já baixaram preços. Mas a economia macaense tornar-se-á mais sustentável e equilibrada.