Turkish Airlines Challenge: Melo Gouveia, o rei da consistência.

Ricardo Melo Gouveia é o jogador mais regular no início de época do Challenge Tour, provando que o press officer desta segunda divisão do golfe europeu tinha razão quando o apontou há uns meses como uma das figuras a seguir com atenção em 2015.

O algarvio de 23 anos foi 12º (-10) no The Barclays Kenya Open, 2º empatado (-17) no Challenge de Madrid e 8º empatado (-8) no Turkish Airlines Challenge.

Melo Gouveia manteve, assim, o 5º lugar que já ocupava no ranking do Challenge Tour, e à sua frente só tem: o sul-africano Haydn Porteous (nº1) que ganhou o único torneio que participou, no Quénia, optando de resto pelo European Tour; o galês Rhys Davies (2º), recente campeão na Turquia, mas que falhou o cut em Madrid; o espanhol Nacho Elvira (3º), que se impôs em Espanha, mas foi eliminado aos 36 buracos em Belek; e o sul-africano Brandon Stone (4º), vice-campeão em Nairobi, 13º em Madrid e 58º na Turquia.

«Um top-ten é sempre bom, não posso queixar-me. Isso tem sido um ponto muito positivo, e se continuar assim vou conseguir o meu objectivo no final da época, o apuramento para o European Tour. O mais importante é estar consistente todo o ano, mesmo quando não estou a jogar bem. Fazer um top-ten sem estar a 100% é muito bom, e foi o que aconteceu neste torneio, o que me deixa muito contente», disse, depois de empatar com mais sete jogadores, fazendo com que o prémio se fixasse apenas em 3.588 euros, para um total de 21.788 euros angariados em três torneios. Com voltas de 70, 73, 68 e 69, para um agregado de 8 abaixo do Par do Gloria Golf Club, na estância de Antalya, “Melinho” nunca andou verdadeiramente na luta pelo título mas não esteve longe de um top-5 e ficou a 6 pancadas de Rhys Davies, que somou o seu terceiro troféu no Challenge Tour e foi considerado uma grande promessa quando arrebatou o Troféu Hassan II, do European Tour, em 2010.

Melo Gouveia preparou muito bem a entrada no Challenge Tour de 2015, vencendo nos primeiros meses do ano dois torneios, no PGA Portugal Tour e no Algarve Pro Golf Tour. A confiança angariada reforçou-se com três prestações sólidas no segundo principal circuito europeu: «Este início de ano foi muito importante, retirou-me um pouquinho a pressão para o resto da época, mas há que continuar a dar o máximo e não ficar à sombra da bananeira». No entanto, ainda não teve uma exibição inspirada, como aquela que o levou, no final da época passada, a dois sucessos no Challenge Tour e na Escola de Qualificação: «Em Madrid foi o torneio em que estive mais perto desse nível, mas houve ali alguns buracos em que cometi uns erros, embora seja natural ao fim de quatro voltas. Só que é a diferença entre ficar em 2º ou ganhar. Ainda não tive um torneio em que pudesse dizer que joguei quatro voltas ao meu mais alto nível. Mas saber disso e ter estes resultados é óptimo e dá-me confiança, sei que estou a trabalhar nas coisas certas e que, mais cedo ou mais tarde, vou conseguir a segunda vitória no Challenge Tour».

Dos quatro portugueses que jogaram na Turquia, só Ricardo Melo Gouveia e Gonçalo Pinto regressaram a casa. Pinto falhou o cut (+16), com voltas de 75 e 85, e na sua conta oficial no facebook manifestou o seu desagrado, depois de o seu empresário, Pedro Lima Pinto, ter conseguido, junto do próprio Challenge Tour, um primeiro convite da época: «Tive dos dias mais complicados de golfe. Por muito que tentasse, as coisas não saíam! Vim confiante para o torneio, sentia o jogo em bom nível e até comecei bem a competição. Mas um mau back nine na primeira volta acabou por tirar-me um pouco a confiança no swing e não consegui recuperar na segunda volta. Custou-me muito engolir este resultado, mas, infelizmente, há dias assim no golfe».

Pelo contrário, Pedro Figueiredo e Filipe Lima seguiram de imediato para a Copenhaga, onde esta semana se disputa o Made in Denmark Challenge, de 170 mil euros, menos 5 mil do que o total que esteve em jogo na Turquia. Uma viagem algo atribulada, como explicou “Figgy”: «Fui directamente da Turquia para a Dinamarca, a maioria dos jogadores fez o mesmo, perdemos a conexão e ficámos umas sete horas à espera no aeroporto de Istambul pelo voo seguinte, mas até acabou por ser divertido porque estivemos todos a conviver».

O campeão nacional de 2013 ocupa o 65º lugar no ranking do Challenge Tour, com 1.846 euros, longe do top-15 que no final do ano se apura para o European Tour. É um pouco escasso e enganador para um jogador que em três torneios assinou cinco voltas nas 60’s pancadas. Ainda agora, na Turquia, foi o melhor português no primeiro dia, com 68 (-4) e chegou a andar no 4º lugar aos 18 buracos, tal como em Madrid posicionou-se no 8º lugar aos 36 buracos. Por outro lado, também viveu cinco voltas acima do Par, com a característica demasiado penalizadora de ainda não ter conseguido finalizar bem os torneios: 76 na última volta, no Quénia, 74 em Espanha e agora 80 na Turquia.

«Sinto-me a bater na bola bastante bem. Só que também estou a sentir que está a faltar-me essa consistência. Se der um shot menos bom, ou se alguma coisa me correr menos bem, é com mais facilidade que perco o ritmo e a consistência que tinha antigamente. É algo em que tenho de trabalhar porque era um ponto forte que tinha. Quando começava um torneio a bater bem, sabia que iria ser até ao final do torneio», disse, depois de voltas de 68, 76, 72 e 80.

«Não estou a fazer nenhuma mudança técnica drástica, nem o David (o treinador que partilha com o amigo Melo Gouveia) vai muito por aí. Claro que há sempre coisas a melhorar no swing, mas acho que é mais mental do que outra coisa. Eu é que tenho de mudar a maneira de pensar para poder jogar mais livremente e com um ritmo mais constante», acrescentou, tendo terminado no 66º posto (+8). Foi a primeira vez que não ficou abaixo do Par, pois foi 49º (-5) em Madrid e 50º (-2) no Quénia.

«O putt está muito melhor do que no Quénia, mas acho que quando estou a bater muito bem na bola, acabo por direccionar o meu foco mais para os greens, e isso prejudica-me nesse aspecto do jogo porque fico mais tenso, sinto mais obrigação de fazer birdies. Mas agora, nos últimos três dias da Turquia, em que não bati tão bem na bola, parece que o putt ficou mais solto, mais livre e acabei por “patar” muito melhor do que andava a fazer», continuou o jogador de 23 anos.

«Isso leva-me a crer que, tanto para o putt, como para o swing, o mais importante é deixar-me ir, deixar as coisas acontecerem, não me preocupar muito, porque as pessoas não podem jogar sempre bem e não posso ficar tão ansioso quando dou um mau shot ou um mau putt. É isso que não tenho feito tão bem ultimamente, porque nesses casos tendo a concentrar-me mais e a gastar muita energia», concluiu a sua análise.

Num programa televisivo do Challenge Tour para o qual foi entrevistado, “Figgy”, disse que o torneio turco fora o seu favorito em 2014. «Continua a ser dos meus torneios preferidos – frisou –, mesmo sabendo que no ano passado foi noutro campo, embora igualmente muito bom e exigente. Os campos estão sempre em excelentes condições, tal como o tempo. Em termos de organização e de qualidade é um torneio fantástico. A Turquia tem evoluído muito e é um prazer para todos os jogadores competir lá».

Pelo segundo ano consecutivo, recebeu um convite directamente da federação turca, graças ao bom relacionamento que existe entre os dois presidentes: «O Manuel Agrellos é muito amigo do Ahmet Ağaoğlu e eu também já me considero relativamente próximo dele. Tanto no ano passado como este ano ele veio ver-me sair algumas vezes e, portanto, é-me uma pessoa querida pelos convites que me tem dado e também pela maneira como me recebe. Sem dúvida que no futuro, se ele precisar e se eu puder ajudar, estarei lá».

Do bom clima da Turquia, para a má meteorologia na Escandinávia, foram apenas algumas horas, mas Pedro Figueiredo mostra-se confiante em dar a volta por cima o mais rapidamente possível, tal como Filipe Lima que andou a lutar pelo título em Nairobi onde terminou no 9º lugar (-11), chegou ao top-15 em Madrid mas fechou no 41º posto (-6), e agora, na Turquia, fez um percurso algo inverso ao de “Figgy”, começando mal e acabando sólido, como se pode ver pelas voltas de 74, 70, 68 e 71 que o levaram à 22ª posição (-5).

Filipe Lima dizia, há umas semanas que «o nível médio deste circuito subiu muito nos últimos anos» e Ricardo Melo Gouveia, que acredita que não anda longe de um segundo título, está confiante de que todos os portugueses irão ainda ter uma palavra a dizer este ano: «O nível de jogo no Challenge Tour está sem dúvida elevado e, aqui, é muito importante fazer-se top-tens porque o dinheiro está todo concentrado nesses dez primeiros, ou até mesmo no top-5, como se viu na semana passada em que fui 8º empatado com sete jogadores e ganhei menos dinheiro do que com o 12º lugar no Quénia. Mas também basta um bom torneio por parte de qualquer um deles para subirem muitas posições. O Pedro e o Filipe vão conseguir pelo menos um ou dois torneios ao nível deles e isso irá dar-lhes confiança».

 

Artigo escrito por Hugo Ribeiro, ao abrigo da parceria entre a Federação Portuguesa de Golfe com o Semanário SOL.