Grécia: Papandreou justifica rutura com PASOK

O ex-primeiro-ministro grego George Papandreou disse ontem numa conferência de imprensa no Estoril que o seu antigo partido PASOK se tornou “demasiado parte do sistema”, justificando assim a rutura com a formação política fundada por seu pai. 

Grécia: Papandreou justifica rutura com PASOK

"Sentimos que era necessário um novo começo, que o PASOK representava ao longo dos anos era um partido de reformas, e houve um momento em que nos tornámos demasiado parte do sistema", referiu em conferência de imprensa antes da sua intervenção nas Conferências do Estoril 2015, evento bienal organizado pela Câmara Municipal de Cascais.

"Assim, senti que as pessoas queriam ver um partido que quisesse fazer mudanças mas respeitando a tradição socialista democrática. Não a velha esquerda tradicional, mas um moderno partido socialista com um forte programa de reformas", justificou.

George Papandreou, de 62 anos, filho de Andreas Papandreou, o fundador do Movimento Socialista Pan-Helénico (PASOK), foi designado primeiro-ministro da Grécia em outubro de 2009, quando o partido que então dirigia garantiu maioria absoluta, sucedendo a um governo conservador.

Desde março de 2012 que o PASOK é dirigido pelo ex-vice-primeiro-ministro e ex-ministro das Finanças e dos Negócios Estrangeiros Evangelos Venizelos, que obteve 4,7% nas eleições de janeiro.

O ex-dirigente social-democrata, abandonou o PASOK em janeiro de 2015 para formar o Movimento dos Socialistas Democratas (KINIMA), mas nas legislativas antecipadas de 25 de janeiro registou apenas 2,6% dos votos e ficou fora do parlamento. O escrutínio confirmou a vitória do partido da esquerda radical SYRIZA, que agora governa a Grécia.

"Senti que a questão do défice era um sintoma dos problemas estruturais na Grécia. Desperdiçávamos dinheiro, havia clientelismo, corrupção", referiu o ex-chefe do governo grego, ainda presidente em exercício da Internacional Socialista, que agrupa os partidos socialistas e sociais-democratas à escala mundial.

Terceiro membro de uma importante dinastia política grega — o seu avô paterno foi três vezes primeiro-ministro e o seu pai e garantiu a primeira vitória do PASOK na Grécia pós-ditadura em 1981 e por maioria absoluta — socorreu-se de um exemplo que protagonizou quando era primeiro-ministro e que também referiu na sua intervenção perante a assistência.

"Sabíamos que havia corrupção no setor médico e sugeri que começassem a ser passadas receitas de medicamentos 'online'. Porque os médicos estavam a prescrever demasiado, e quem pagava eram os pensionistas, os trabalhadores… fizemo-lo e os custos foram reduzidos em 50%, cerca 2,5 mil milhões de euros, mais do que hoje se garante através de todas os impostos sobre a propriedade".

Nas suas declarações perante os jornalistas, e para além de se pronunciar por uma mutualização da dívida grega, Papandreou também assegurou que durante as suas funções de primeiro-ministro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) nunca propôs uma reestruturação da dívida.

"Não fomos informados dessa discussão no FMI (…) apesar de esse discurso se ter tornado tanto mais importante quanto mais dificuldades tínhamos de acesso aos mercados", sustentou.

Lusa/SOL