Epopeia marítima

A Volvo Ocean Race, uma das mais importantes e difíceis regatas do mundo, conta nesta 12.ª edição com sete equipas que dão a volta ao mundo em 11 etapas (escalas). Agora, chegou a vez de as embarcações aportarem em Lisboa, a única capital europeia a receber honras desta visita.

Depois de terem partido de Newport a 17 de Maio, nos EUA, está previsto – se não existirem grandes alterações atmosféricas – que os velejadores comecem a chegar este fim-de-semana à capital portuguesa. A etapa de travessia do Atlântico percorre 2.800 milhas náuticas e é altamente simbólica e exigente.

Para já, na liderança está a equipa Abu Dhabi Ocean Racing, que tem como skipper o inglês Ian Walker, duas vezes medalha de prata em Jogos Olímpicos. Na segunda posição encontramos o Dongfeng Race Team (com uma tripulação que integra muitos chineses) e o terceiro lugar está por agora nas mãos da Team Brunel, isto à partida de Newport.

Para chegarem até aqui, os velejadores tiveram de lutar com dificílimas condições quer de mar quer atmosféricas, cruzaram quatro oceanos e quando chegarem à última etapa, em Gotemburgo, na Suécia, onde se espera que aportem em finais de Junho, terão percorrido 38.739 milhas náuticas, visitando 11 países em cinco continentes: Espanha, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, China, Nova Zelândia, Brasil, EUA, Portugal, França, Holanda e Suécia. Este foi o caminho que percorreram desde a sua partida em Outubro de 2014, em Alicante.

A ideia do evento surgiu em 1973, então sob o nome de Whitebread, mas em 2001 começou a chamar-se Volvo Ocean Race e as regras mudaram profundamente, especialmente nesta edição 2014/2015. A grande novidade foi a definição de uma nova classe de embarcações – Volvo Ocean 65 -, ficando estipulado que todas obedeceriam a um design rígido saído do ateliê norte-americano da Farr Yacht Design. Com isto pouparam-se despesas (o modelo é só um) e para a sua construção estiveram envolvidos quatro famosos estaleiros – Persico, em Itália; Multiplast, em França; Green Marine, em Inglaterra; e Decision, na Suíça – que seguiram à risca os planos traçados pela organização.

As embarcações medem 20,37 metros de comprimento, pesam 12.500 quilos e a sua área vélica total é de 468 m2. Com embarcações todas iguais, o foco da competição está agora totalmente centrado na perícia dos velejadores e nas suas jogadas tácticas e pode dizer-se que as tripulações são mais profissionalizadas. Os veleiros são agora mais rápidos, mas têm demonstrado ser também mais resistentes.

As velas foram construídas pela North Sail na sua fábrica de Nevada, EUA, e houve uma imposição: o carbono não pode entrar na sua composição porque bloqueia os sinais de comunicação satélite. Isto deixa bem presente a preocupação que a organização atribui hoje à comunicação com o exterior (podemos seguir a vida a bordo) razão pela qual estão montadas cinco câmaras para captar imagens em directos e cinco microfones de som, além de equipamento de infravermelhos para permitir imagens nocturnas. Reforçando esta aposta, além dos oito tripulantes que podem seguir a bordo, irá mais um não velejador que será o responsável pela área de multimédia. A única excepção ao número total de tripulantes a bordo está ligada às equipas totalmente femininas – este ano com a novidade de existir uma, a SCA, liderada pela holandesa Carolijn Brower. Poderão levar 11 velejadoras a bordo.

Entretanto, há mais regras para cumprir. A organização impõe que cada equipa tenha pelo menos dois velejadores nascidos depois de 1 de Outubro de 1984, isto para encorajar a constituição de tripulações mais jovens. Outra curiosa medida é a obrigação de a bordo existirem pelo menos dois tripulantes que actuarão como médicos, se necessário, pelo que muitos tiveram de aprender a fazer suturas e a administrar injecções intravenosas, para só citar estes dois exemplos.

Depois da chegada a Lisboa, ficam a faltar a passagem por Lorient, na França, um pequeno salto à Holanda e, finalmente, a regata até Gotemburgo. São etapas mais pequenas, é certo, mas muito tácticas, esperando-se aí grande luta sobre as águas.

Mas enquanto a frota estiver em Lisboa, na doca de Pedrouços, em Algés, haverá muito mais para lá da vela. Animação e música é o que não irá faltar num espaço que abre todos os dias às 10h30 e fechará à meia-noite, e por onde passarão mais de 50 artistas, entre bandas, DJs e dançarinos. Segundo a organização do evento, são esperados mais de 500 mil visitantes. Enfim, um espectáculo digno para receber, na bonita cidade de Lisboa, os tripulantes de mais de 18 nacionalidades e toda a sua máquina organizativa. Um espectáculo dentro de outro espectáculo.