O mercado petrolífero e Portugal

No primeiro trimestre deste ano o valor das importações portuguesas de combustíveis e lubrificantes foi 30% inferior ao registado no primeiro trimestre de 2014. Consequência, claro, da baixa do preço do petróleo.  

Baixa que ajuda o crescimento da nossa economia. Apesar da multiplicação das energias renováveis (eólicas, sobretudo) o petróleo ainda abastece cerca de metade do nosso consumo de energia primária; e o gás natural um pouco mais de 10%. A nossa dependência do petróleo diminuiu alguma coisa, mais permanece excessiva. «Não é sustentável», disse o ministro do Ambiente, Moreira da Silva, ao apresentar em Novembro a 'fiscalidade verde'.

Mas até quando continuará relativamente barato o barril de crude? A única coisa certa no mercado petrolífero é ele não ser estático. No Verão do ano passado o barril andava pelos 115 dólares; mas em Janeiro passado situava-se abaixo dos 50. A Arábia Saudita recusou-se a baixar a produção; pelo contrário, aumentou-a, para pôr 'fora de combate' muitas extracções petrolíferas em rochas de xisto nos Estados Unidos. De facto, recentemente o barril aproximou-se dos 70 dólares. Continuará a subida?
  
O petróleo americano proveniente do chamado fracking tinha sido o principal motivo para a baixa do crude no mercado mundial. Mas, dizia-se, com o barril a 60 dólares deixaria de ser rentável a utilização desse processo em grande parte dos locais de extracção, reduzindo a produção americana e abrindo caminho a nova subida no preço.

A Arábia Saudita já cantou vitória, alegando que a sua estratégia contra o fracking é um sucesso. Proclamação precipitada, porém. É que a produção nos EUA de petróleo de xisto caiu menos do que se contava. A maioria das empresas empenhadas nessa área conseguiu aumentar significativamente a sua produtividade, utilizando novas técnicas, e baixar custos em perto de 20%. Por isso fecharam menos poços do que se esperava. Em média, o break-even price (preço a partir do qual a produção se torna lucrativa) no petróleo de xisto, que era de 75 dólares por barril há um ano, desceu agora para 60, podendo em breve baixar até 50 dólares. 

Os investimentos necessários para este acréscimo de eficácia na produção de petróleo de xisto foram facilitados pela abundância e baixo custo dos capitais, nos empréstimos bancários e nas obrigações. E os juros baixos não irão desaparecer tão cedo nos EUA, segundo as últimas indicações do seu banco central, a Reserva Federal.

A própria OPEP prevê que, na melhor das hipóteses para os seus interesses, em 2025 o petróleo ande pelos 75 dólares, não mais. Por isso recomenda a restauração de quotas no cartel. Só que este, que já foi a fonte de mais de metade da produção mundial, produz hoje apenas cerca de um terço. E os sauditas não aceitam cortar a sua produção – deverão mesmo continuar a aumentá-la, pois não querem perder quota de mercado nem dinheiro. Também a Rússia e o Irão precisam de dinheiro, por isso subiram a sua produção.
 
Assim, mantém-se um excedente de crude no mercado, o que torna pouco credível um novo surto de alta dos preços. É bom para Portugal, embora o mercado petrolífero, como muitos outros, seja extremamente volátil. Nada está portanto garantido. Como não estão os juros baixos da dívida pública portuguesa, que subiram por causa do impasse na Grécia. É a vida.