Passos Coelho: ‘Conservo o estilo de vida que tinha antes de ser primeiro-ministro’

Gosta de viver em Massamá, não vê telenovelas há 30 anos e não faz desporto nem vai ao ginásio. Pedro Passos Coelho responde a um conjunto de perguntas sobre a sua vida privada, revelando no entanto que neste momento está totalmente absorvido pelo cargo e a preparar as próximas eleições.

À margem da entrevista com o primeiro-ministro publicada na última edição do SOL, fizemos um conjunto de perguntas de carácter mais pessoal a que Pedro Passos Coelho se prontificou a responder. Não sem que antes nos advertisse: «Sinto-me sempre pouco à-vontade a responder a esse tipo de questões. A autora da minha biografia fez-me naturalmente várias perguntas dessas e eu notei que ficava sempre um pouco desapontada com as minhas respostas…». De qualquer modo, aqui vão as perguntas e as respostas de Passos Coelho. Que, quer na entrevista da semana passada quer nesta adenda, respondeu sempre directamente às perguntas, não fugindo ao tema nem as tentando rodear.

Consegue conciliar vida pública e familiar?
É realmente difícil conseguir conciliar a vida pública com as responsabilidades familiares correntes. Esforço-me por deixar a política fora de casa e procuro guardar sempre que possível um dos dias do fim-de-semana para a família. Mas sei que não é suficiente, sobretudo quando se tem uma filha pequena, como é o nosso caso.

Continua a viajar em turística?
Sim, mantenho a regra de que as deslocações aéreas para destinos até quatro horas de viagem são feitas em classe turística, não apenas para mim mas para todos os membros do Governo e seus acompanhantes. Foi uma entre várias medidas adoptadas para mostrar que os membros do Governo davam o exemplo num tempo de fortes restrições. Recordo que diminuímos e disciplinámos o número de elementos dos gabinetes governamentais, obrigando inclusivamente à publicação em site próprio de toda a informação associada às nomeações. Mantivemos também um corte adicional nos salários do pessoal político de 5%, o qual se mantém apesar da reposição salarial que se iniciou este ano em toda a função pública.

Quando passa férias na Manta Rota, para lá das manifestações organizadas, alguém se mete consigo?

Nunca tive qualquer problema fosse com quem fosse durante as minhas férias. Uma ou outra vez ouve-se um comentário menos agradável, compensado por outros mais agradáveis que também acontecem. E é, de resto, mais frequente abordarem-me pessoalmente para demonstrar apoio do que para protestar. Mas tenho gosto em poder falar às pessoas, mesmo quando me abordam no hipermercado para manifestar o seu desagrado ou a sua apreensão.

Por que mantém esse estilo de vida: viajar em turística, viver em Massamá, passar férias na Manta Rota? É uma imagem de marca? Uma teimosia? Não seria mais cómodo ir para um sítio onde não fosse conhecido?
Não se trata nem de teimosia nem de preocupação com a imagem. Dentro do que é possível, conservo o estilo de vida que tinha antes de ser primeiro-ministro e que está de acordo com os meus gostos e possibilidades. Gosto sinceramente da Manta Rota e das condições em que estou instalado (não são luxuosas, antes pelo contrário, mas estou entre amigos, perto da praia, etc.) e, quanto ao sítio em que habito, vivo muito bem em Massamá, onde estamos mais próximos dos meus sogros e da área de trabalho da minha mulher. Se algum dia se puser a necessidade de mudar de residência, isso será visto naturalmente tendo em conta as disponibilidades económicas.

Que séries gosta mais de ver na TV? E vê alguma novela?
Há mais de 30 anos, suponho, que não vejo telenovelas. Quanto a séries, também é pouco habitual, dado não dispor de tempo para garantir assiduidade no acompanhamento. No entanto, gostei de ver, durante alguns anos, o Doctor House, por exemplo, ou mais recentemente o House of Cards. Também vejo ocasionalmente o American's Got Talent ou o Britan's Got Talent. Mas normalmente prefiro filmes ou documentários.

As suas filhas, como a maior parte dos jovens hoje em dia, passam muito tempo isoladas nos seus computadores? Isso dificulta a convivência em casa? Partilha alguns desses momentos com elas?
Sim. Por vezes é preciso chamar a atenção de que se torna pouco sociável – e mesmo incómodo – o uso excessivo de telemóveis ou computadores nos espaços comuns da família, quando os partilhamos. Mas temos aprendido a viver mais positivamente com essas experiências. Por exemplo, damos connosco cada vez mais a utilizar esses meios, sobretudo a net, para procurar informação útil às nossas conversas ou para procurar músicas ou vídeos antigos, por exemplo.

Que países ainda não conhece e gostava muito de visitar com a família? 
Em primeiro lugar, gostava de visitar com a família países em que já estive em viagens oficiais mas que não pude conhecer propriamente, tanto na Europa do Norte como na América Latina ou no Oriente. Mas, apesar de ser pouco provável que tal possa acontecer, gostava de conhecer a Austrália e a Ásia, por exemplo, pelo que têm de tão diferente do que conhecemos.

Que projectos tem para lá da política? E interesses?
A vida política representou para mim, mais do que uma vez, um interesse bastante absorvente. Estive em lugares dirigentes da JSD e do PSD durante vários anos, estive mesmo oito anos como deputado e quase outros oito na vida autárquica, embora acumulando com outras funções na vida privada. Fundei também, juntamente com outras pessoas, alguns movimentos como o 'Pensar Portugal' e a 'Plataforma Construir Ideias'. Porém, a vida política esteve sempre longe de esgotar o meu interesse, que se repartiu ao longo da vida por muitas áreas, incluindo a economia e a gestão, a matemática, a história e a arte, a música e o canto, entre outros. Em todo o caso, neste momento estou totalmente absorvido pelas funções de primeiro-ministro e na preparação das próximas eleições legislativas, pensando nos próximos quatro anos. Não estou, portanto, a pensar nem a preparar quaisquer outros projectos desligados deste.

Pratica algum desporto: jogging, bicicleta, golfe? E vai ao ginásio?
Não. Nem desporto nem ginásio.

É do Benfica. Acha que Jorge Jesus deve continuar, depois de ter sido bicampeão?
É verdade, torço pelo Benfica, apesar de não ser sócio. E estou muito contente por o Benfica ser campeão. Quanto ao treinador, prefiro não adiantar palpites. Mas o Jorge Jesus tem sido um bom treinador e conseguiu bons resultados. Isso já seria um bom indicador para o futuro. Mas para futuro é preciso ter em conta algo mais do que os resultados alcançados, não é verdade?