O subcomissário que ‘varreu’ três gerações de benfiquistas

Há seis anos, quando Jorge Jesus conquistou o primeiro campeonato pelo Benfica, dirigi-me à Praça do Município para saudar a equipa.

Não gostei do ambiente. A música demasiado alta criava um clima de tensão. Hordas de vândalos de tronco nu entoavam cânticos agressivos contra os rivais do Sporting. Constatei ali que, tal como existe mau perder, também existe 'mau ganhar'. Não vi violência, mas percebi que se alguém se atravessasse no caminho daqueles hooligans ia ter problemas. A celebração era um barril de pólvora que só precisava de um rastilho para detonar.

Nos festejos do passado domingo, no Marquês de Pombal, alguém fez o favor de acender esse rastilho. Segundo o Correio da Manhã, a violência foi desencadeada pela passagem no ecrã gigante de imagens de benfiquistas a serem agredidos em Guimarães. Foi o suficiente para que a multidão explodisse. Choveram pedras, garrafas e insultos sobre as forças policiais. Quando Luisão tentou apelar à calma, dizendo «O Benfica não é briga», já o caldo estava entornado.

A verificar-se a versão do CM, tratou-se de uma atitude irresponsável e gravíssima por parte da organização. A brincadeira de passar aquelas imagens incendiárias poderia ter provocado uma tragédia, embora as culpas sejam repartidas: se os adeptos eram os mesmos que vi há seis anos na Praça do Município, já estavam seguramente predispostos à violência. Muitos deles, ao contrário do que afirmaram o presidente, o treinador e vários jogadores do clube, não merecem comemorar este título.

Voltemos às imagens de Guimarães. O subcomissário Macedo Silva conseguiu algo inédito. Duma assentada, varreu três gerações de benfiquistas: o avô, que pela sua idade merecia algum respeito; o pai das crianças, que foi o mais castigado, com várias bastonadas no 'lombo'; as próprias crianças, que assistiram a algo que nunca deveriam ter visto.

O autor das agressões, em vez de se mostrar arrependido, veio alegar que o adepto o insultou e lhe cuspiu. Que importa isso? Se o fez, o homem devia ter sido detido e eventualmente julgado, nunca espancado na via pública, muito menos à frente do pai e dos próprios filhos. Aqueles que andam armados e cuja função é zelar pela segurança pública não podem perder a cabeça por tão pouco. Caso contrário, passam a representar uma ameaça e um perigo.

jose.c.saraiva@sol.pt

Crónica originalmente publicada na edição em papel do SOL de 22/05/2015