Na cabeça dela

Todos nós temos amigos que em determinados momentos da nossa vida, e de uma forma muitas vezes inconsciente, acabamos por renegar. Não que não gostemos deles, nada disso – na verdade até os consideramos -, mas fazem-nos recordar momentos que desejamos apagar da nossa memória ou transportam-nos para experiências que já não podemos ter. Sim,…

Mas, quando nos divorciamos, nos separamos da namorada ou por alguma viagem de trabalho de quem está connosco ficamos sozinhos em casa, é ao numero deles que recorremos. Essa altura é para recordar os velhos tempos, testar se ainda estamos com a força antiga e mostrar que ainda não morremos para a vida, que sabemos o que é diversão. Sim , sim, sabemos bem, hoje é dia para voltarmos a ligar aquele número que se cansou de nos ligar a convidar para uma saída e que não atendemos por não querermos dizer que não. Sim porque nós crescemos e hoje é só hoje, amanhã tudo volta ao normal.

Depois de uma noite em que as minhas amigas se despedem de mim às 03h da manhã dizendo que estão cansadas, eu recorro ao facebook para ver quem está online. E, claro, esse amigo está. Envio-lhe uma mensagem sorrateira a dizer 'Vai dormir' só para início de conversa mas o que quero mesmo é companhia para o resto da noite. Ele responde de imediato, está no Puro Vicio e convida-me simpaticamente para ir lá ter. Não me faço de esquisita e passados 15 minutos já lá estou. Que azar: quando chego acaba a música e os planos têm que ser reformulados.

Depois de um momento de indecisão decidimos ir para uma das discotecas da zona. Hoje é para pôr a conversa em dia e para ver no que dá. Sem expectativas mas com muitas ao mesmo tempo. Falamos sobre a vida, o que fazemos e em que ponto estão os amigos que partilharam aquelas histórias connosco, aquele Verão de 2005 em que dormíamos todos juntos no apartamento sem pensar no amanhã, cantávamos abraçados mesmo depois da discoteca ter fechado e ficávamos horas à conversa em esplanadas que ainda não haviam aberto. Era tarde ou no caso muito cedo.

E de repente bate a saudade… Dali vamos para outro lado, só porque a conversa está boa e preciso de desabafar em que estado me encontro. O namorado que me traiu, a aventura em Angola, os planos, sonhos e desilusões. Digo-lhe que estou apaixonada mas que hoje em dia as mulheres têm os mesmos direitos que os homens e que se surgir plano B levo-o já para casa hoje. Por exemplo este Francisco com quem acabou de falar. Esse seria uma boa hipótese. No fundo sinto que a idade está a passar, não tenho a minha vida resolvida e com uma pessoa como ele sinto-me menos mal. Sim, porque eu cresci , ele estagnou. Só porque continua a sair à noite. Mas amanhã volto ao mesmo registo e o número dele regressa à gaveta.

Isto sou eu na cabeça dela, nas palavras dela. A amiga que resolveu ligar-me na semana passada.