Vítor Bento: ‘Só um acordo de 25.ª hora pode salvar a Grécia’

O economista Vítor Bento considerou hoje que a probabilidade de a Grécia sair da zona euro é “maior do que 50%”, afirmando que o que pode salvar aquele país agora “é um acordo de 25.ª hora”.

Vítor Bento, presidente da administração da SIBS, afirmou esta manhã que a Grécia "tem cometido demasiados erros no processo negocial que tem limitado a possibilidade do outro lado ser mais flexível".

"Se a Grécia sair é óbvio que aumenta o risco de outros [países da [zona euro] saírem, a começar obviamente por nós", disse, "mas estou convencido que a zona euro tornar-se-ia mais coesa".

Falando na conferência que assinala o 127.º aniversário do Jornal de Notícias "Por Portugal", a decorrer na Casa da Música, no Porto, o economista disse ainda que se "um país sair da zona euro é um problema desse país", mas "se três ou quatro saírem", o problema já é da zona euro e, "portanto, um falhanço da zona euro".

Para Vítor Bento, a "discussão [do problema da Grécia] está demasiado centrada na dívida".

"Eu não creio que a dívida seja o problema, reside mais na economia, que é demasiado desestruturada e tem necessidade de responder aos desafios da globalização", concluiu.

Nesta conferência, António Vitorino, antigo ministro da Defesa do governo socialista de António Guterres, defendeu que Portugal acertou "na decisão fundamental de aderir à União Europeia", contudo, atualmente a situação é diferente e é impossível ignorar "a existência de dois elefantes na sala: Reino Unido e a Grécia".

Relativamente à Grécia, Vitorino disse tratar-se de uma questão "muito relevante", considerando que "o precedente de um país sair da zona euro é perigoso", porque pode colocar em causa o princípio de igualdade entre todos os Estados-membros.

"Isto não é uma questão económica, tem muitas implicações económicas, mas é eminentemente política, que exige uma resposta política", disse.

António Vitorino disse mesmo que atualmente "aceitam-se apostas" sobre quem sai primeiro, se Jorge Jesus dos comandos do Benfica ou a Grécia do euro.

Relativamente ao Reino Unido, o socialista admitiu ver "com apreensão" a eventual saída da UE, por trazer eventualmente "consequências para Portugal", sobretudo políticas.

"Teria consequências geopolíticas a longo prazo", frisou.

Já o antigo ministro Adriano Moreira afirmou que Portugal "atingiu uma fadiga tributária que não é aceitável".

O professor emérito do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas considerou que, desde a queda do muro de Berlim, na Alemanha, a situação económica do país tem vindo a degradar-se, contudo, "tem sido aceite, suportada com um enorme civismo da população".

"Mas tem de se reconhecer que o país atingiu uma fadiga tributária que não é aceitável", frisou Adriano Moreira.

Falando no âmbito de uma discussão sob o tema "Portugal no contexto Europeu e Atlântico: Caminhos para o Futuro?", Adriano Moreira considerou ainda ser "preciso que o mundo corra melhor para salvaguardar a unidade da Europa, que faz muita falta".

Na sua opinião, a Europa "está ameaçada pelos partidos reacionários", "ameaçada com a divisão da Inglaterra", bem como "com a ideia de que ainda é um elo dourado para onde podem emigrar todos os indivíduos que transformam o Mediterrâneo num cemitério". 

Lusa / SOL