Arresto ameaça rede Tivoli

A cadeia Tivoli vai apresentar um requerimento com o objectivo de levantar o arresto que, no âmbito da apreensão de activos do Grupo Espírito Santo decretada pelo Ministério Público, também recaiu sobre hotéis da rede hoteleira da Rioforte.

Em causa estão pelo menos duas unidades no Algarve – a de Lagos e o Victoria, em Vilamoura – confirmou ao SOL fonte oficial da Tivoli, recusando clarificar se há outros hotéis arrestados.

Segundo a mesma fonte, a empresa considera já reunir informação e argumentos suficientes para ter sucesso nesta intenção e assim cumprir o Processo Especial de Revitalização (PER) que tem em curso. 

O plano de recuperação prevê vender a Tivoli à tailandesa Minor para salvar a rede hoteleira e a marca. E foi aprovado pelos credores na quinta-feira passada, já depois de ser conhecido o arresto de bens do Grupo Espírito Santo. Aguarda homologação pelo Tribunal do Comércio. 

Porém, a alienação de hotéis Tivoli deve depender da decisão quanto ao requerimento, sendo difícil prever o tempo que demorará este processo. Ainda assim, do lado da Tivoli, há a convicção de que o arresto não porá o PER em causa.

Mas há quem veja dificuldades crescentes no processo. Um dos advogados de investidores do BES observa ao SOL que «uma decisão judicial se sobrepõe às determinações de tribunais comerciais» e pára quaisquer vendas de activos que tenham sido determinadas, como é o caso dos hotéis e da Herdade da Comporta. Estando os hotéis abrangidos pelo arresto, as vendas em curso são suspensas, entende.

Indefinição afasta investidores

O Ministério Público continua sem clarificar qual o universo de bens que não podem ser vendidos. E toda a indefinição jurídica em torno dos bens arrestados «afasta investidores» nas vendas de activos que estavam em curso, notou ao SOL outro advogado que está a acompanhar o arresto. Este é o tipo de acção que pode congelar bens durante anos, uma vez que só será levantada quando houver uma decisão judicial sobre o caso BES.

Em meados de Maio, a administração liderada por Alexandre Solleiro apresentou aos credores da Tivoli um projecto em que dava conta de uma proposta – a única que o grupo recebeu – em que o Minor Hotel Group assinalava a intenção de assumir o passivo, pagar créditos e garantir as responsabilidades  existentes, desembolsando 82,5 milhões de euros.

O mesmo investidor já tinha assumido os dois activos hoteleiros do grupo no Brasil e os quatro imóveis onde operam os Tivoli Lisboa, Marina Vilamoura, Marina Portimão e Carvoeiro. Tem ainda um contrato-promessa para ficar com o imóvel referente ao Tivoli Oriente, no Parque das Nações, em Lisboa, em vigor até 30 de Junho. Sobram seis hotéis.

Futuro incerto

A análise da administração que permitiu aprovar o PER dava conta de uma situação delicada nos hotéis, recomendando a transacção com os tailandeses. «A inexistência de meios financeiros no curto e no médio prazo suficientes por parte da banca e do accionista comprometem de forma profunda o futuro da empresa e do Grupo Tivoli, inviabilizando a continuidade do mesmo», referia. 

A aceitação da oferta da Minor seria «o melhor e único cenário possível no curto prazo para, por um lado, evitar a liquidação desta sociedade com consequências económicas e sociais avassaladoras que daí adviriam», bem como pagar aos credores que reclamam 68 milhões em créditos comuns.

Com a indefinição gerada pelo arresto de bens, as dúvidas quanto à capacidade financeira do grupo identificadas no documento adensam-se. Fonte oficial assegura que o grupo Tivoli, que teve prejuízos de 13 milhões de euros em 2014, não corre o risco de fechar. Os hotéis vão continuar a operar e as receitas geradas nos próximos meses, época alta para o turismo, darão um contributo positivo para que a empresa cumpra as suas responsabilidades, sublinha ao SOL.

Garante ainda que têm sido mantidas conversações com a Minor, que pôs como condição da sua proposta que o negócio fosse concretizado «com rapidez». «Estão a par de toda a situação», afirma, reiterando que os tailandeses mantêm o interesse na rede hoteleira. O SOL contactou o grupo asiático, mas não obteve resposta até ao fecho da edição.

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