Peritos que ajudam papa a combater abusos da Igreja querem mais abertura

Os peritos externos convocados pelo papa Francisco para ajudar a combater os abusos sexuais na Igreja Católica reivindicam uma maior abertura no Vaticano e estão a enfurecer os mais conservadores da Santa Sé.

Peritos que ajudam papa a combater abusos da Igreja querem mais abertura

Nos últimos meses, os elementos da comissão para a proteção de crianças, criada pelo papa para acabar com os abusos sexuais na Igreja Católica, atacaram publicamente um cardeal e um bispo.

O cardeal em questão é George Pell, chefe de Finanças do Vaticano, acusado de ser um homem "quase sociopata", de ter encoberto abusos sexuais e ter tentado comprar o silêncio de pelo menos uma vítima.

O cardeal australiano — descrito pelo perito Peter Saunders como "um grande espinho" no mandato do papa Francisco — ameaçou com ação legal e foi defendido pelo Vaticano, que considerou que as declarações de Saunders transmitiam apenas a opinião de um indivíduo.

A comissão contra a pedofilia na Igreja tem ligações a grupos de sobreviventes altamente críticos do Vaticano e Peter Saunders, ele próprio vítima de abusos sexuias, manteve a sua apreciação e não pediu desculpas.

O bispo referido, nomeado pelo papa, é o chileno Juan de la Crux Barros, com ligações a um conhecido padre abusador seu conterrâneo, que é acusado de ter encoberto.

Quatro membros da comissão transmitiram a sua preocupação face a esta nomeação ao presidente do organismo, o cardeal Sean O'Malley, que concordou em transmiti-las ao papa.

A comissão alertou, porém, os seus membros para a inibição de "comentarem casos individuais e investigações", mas, simultaneamente, apelou a cardeais e bispos que ajudem a combater os abusos, recordando que "aqueles que estão em posição de autoridade devem agir rapidamente e de forma transparente, para que seja feita justiça".

Em declarações à agência AFP, Marco Politi, um especialista em Vaticano e biógrafo do papa, observou que alguns dos membros da comissão têm arriscado falar face à frustração de uma lenta mudança no Vaticano.

Um ano após ser criada, a comissão "ainda não fixou novas e mais rigorosas linhas de orientação para bispos", exemplificou.

Lusa/SOL