Costa recupera era de Guterres

António Costa tem sido criticado pela direita por ser um regresso ao passado, mas o passado em que se apoia não é o de José Sócrates,com quem costuma ser conotado, mas sim o de António Guterres. Em nenhum momento pediu a maioria absoluta. 

O líder do PS ignorou os últimos secretário-gerais do partido”, António José Seguro e José Sócrates, e recuou aos Estados Gerais de António Guterres, realizado há vinte anos também no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.

Lembrou os compromissos assumidos na altura de Guterres como o rendimento mínimo garantido, a generalização do ensino pré-escolar e o salário mínimo. “Vinte anos depois eu digo valeu a pena termos estado cá há vinte anos e vale a pena estarmos cá hoje outra vez”, garantiu Costa.

Além de Guterres, foram apenas lembradas as“caras de sempre que são a marca identitária do PS da liberdade como Manuel Alegre e do PS da solidariedade como Ferro Rodrigues”.

Em nenhum momento António Costa pediu uma maioria absoluta. Já no discurso de abertura, esta sexta-feira, não o tinha feito. De todas as personalidades que tomaram da palavra na Convenção do PS, apenas o líder da FAUL, Marcos Perestrello, e o histórico Manuel Alegre não tiveram medo dessas palavras e pediram uma maioria absoluta para o PS nas próximas legislativas. O líder parlamentar, Ferro Rodrigues, colocou mesmo em causa essa possibilidade. “O PS vai ser capaz, não apenas de ganhar as eleições mas de conseguir uma maioria, que pode ser absoluta ou não”, disse.

A maior parte do discurso de 50 minutos de Costa, que encerrou a Convenção, foi dedicada a falar sobre o emprego, “a causa das causas”. Numa crítica à proposta da maioria de inscrever na Constituição um limite à dívida, Costa ironizou: “O emprego não se decreta. Nem que inscrevêssemos na Constituição uma norma para impor um limite máximo ao desemprego”.

Para o líder do PS, o primeiro-ministro “confunde sistematicamente economia com contabilidade”, defendendo que o aumento do emprego só acontece através de uma maior procura interna, impulsionada pela melhoria dos rendimentos das famílias. E enumerou as várias propostas dos socialistas nesta área como os limites aos contratos a prazo e recibos verdes, a reposição das 35 horas de trabalho na Função Pública ou

Sobre a descida da TSU – a medida mais polémica e que mereceu o único voto contra ao programa, por parte de Maria do Rosário Gama, da Associação de Pensionistas e Reformados – Costa defendeu que é a única forma de aumentar “de forma significativa e relevante o poder de compra” dos portugueses. E assegurou que não irá pôr em risco a sustentabilidade da Segurança Social “e muito menos a liquidez do Estado”.

Costa contrapôs-se a Passos Coelho – “que pena o actual primeiro-ministro nunca ter sido autarca” – para dizer que assim “não teria cara” para vir prometer o que não cumpriu durante quatro anos.  

Num discurso extenso e denso, o maior aplauso foi para a homenagem feita ao ex-ministro socialista Mariano Gago.

A assistir ao encerramento da Convenção esteve o candidato presidencial Sampaio da Nóvoa, que ainda não tem o apoio oficial do PS. A imagem do ex-reitor da Universidade de Lisboa apareceu projecta no ecrã gigante, por cima da bandeira de Portugal e ao mesmo tempo que se cantava o hino nacional. A fechar os trabalhos, a música “À minha maneira”, dos Xutos & Pontapés.

sonia.cerdeira@sol.pt