Ministra continua ‘fora do trilho’

Apesar dos avisos de Passos Coelho, Anabela Rodrigues continua a ser uma dor de cabeça para a maioria. Há duas semanas, a ministra da Administração Interna agravou mesmo o impasse negocial com os sindicatos sobre o estatuto da PSP. A atitude de Anabela Rodrigues na segunda ronda de reuniões de há duas semanas deixou os…

Segundo o SOL apurou, Passos Coelho já chamou duas vezes a ministra da Administração Interna, nas últimas semanas: o primeiro-ministro quis pôr-se a par das negociações com a PSP e alertar Anabela Rodrigues para o facto de ter em mãos matéria politicamente explosiva em época de pré-campanha eleitoral.

Avisos de Passos caíram em saco roto

O aviso Passos parece, contudo, não ter surtido efeito. A ministra manteve-se irredutível com os sindicatos, aumentando o clima de tensão. Além disso, o facto de não ter sido clara no que disse aos sindicatos gerou uma enorme desconfiança – ao ponto de Paulo Rodrigues, líder do maior sindicato da PSP, ter querido assegurar que ficava com a acta da segunda reunião, que teve quinta-feira com a ministra. O sindicalista quer garantir que fica com provas escritas de tudo o que é dito nas negociações.

Na maioria, o tema está a fazer soar campainhas. “A ministra continua fora do trilho”, resume um vice-presidente de Paulo Portas, que não entende por que motivo não surtiram efeito os alertas feitos pelo primeiro-ministro. “Vamos ter de continuar a acompanhar esta situação”, admite, sublinhando o carácter sensível do tema.

Polícias fazem ultimato

“É uma dor de cabeça de que não precisamos e pode ser um problema mesmo em vésperas de eleições”, reconhece um dirigente da bancada social-democrata, preocupado com a ideia de ter polícias em manifestações de rua a poucos meses das legislativas.

“Ninguém percebe a atitude da ministra”, comenta outro deputado do PSD, dando nota do mal-estar na maioria em relação a Anabela Rodrigues.

Os sindicatos prometem, de resto, levar a luta até ao fim. Ainda antes de iniciarem a terceira ronda de negociações, fizeram na quinta-feira um ultimato à ministra e apelaram à intervenção de Passos.

Em comunicado, exigiram à ministra uma “mudança de atitude”, a começar por “um discurso sério e objectivo”, e apelam também aos mais altos responsáveis do Governo para que “assumam as suas responsabilidades” neste processo. Se isso não acontecer, “a contestação será inevitável”. Esta semana, serão definidas as acções de luta.

“Aproximamo-nos cada vez mais do caminho da contestação”, disse ao SOL Paulo Rodrigues, admitindo já não acreditar num consenso. Os polícias dizem-se surpreendidos com a intransigência de Anabela Rodrigues que não cedeu a exigências relacionadas com o horário de trabalho – só admite 36 horas para os agentes que fazem serviço operacional e 40 para os restantes – e com o regime de férias (quer apenas 22 e não 25 dias úteis).

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