Eleições: a campanha do medo

Oque assusta mais o eleitorado? Continuar a sofrer a austeridade aplicada pelo Governo ou regressar a políticas que conduzam novamente à bancarrota, pela mão do PS? São estas as principais armas de arremesso com que a maioria PSD/CDS e os socialistas vão jogar na campanha para as legislativas de Outubro. 

Eleições: a campanha do medo

Os principais slogans inspiram rejeição e medo. A “insensibilidade social do Governo” vai ser lembrada a par dos cortes nas pensões. E a “cegueira ideológica” quase sempre aliada a Passos Coelho justifica a ideia de que o Governo foi “além da troika” para equilibrar as contas, mas o país está pior. Pior porque a dívida pública cresceu, pior porque o país está mais pobre, há mais desemprego e a emigração está ao nível dos anos 60. Pior porque as famílias não suportam a brutal carga fiscal e as empresas agonizam sem financiamento, acusam os socialistas. Afinal, “os sacrifícios dos portugueses não valeram a pena”, uma frase que resume bem o mantra do PS contra a direita.      

Já a maioria PSD/CDS elege como principais farpas contra António Costa o regresso ao despesismo do anterior governo socialista, com o risco de um novo resgate e nova intervenção da troika. E, em subtexto, uma identificação do PS com as suspeitas de promiscuidade entre política e negócios que surge associada a José Sócrates.

Mas nem só de ataques e contra-ataques vive a campanha. Os discursos e a estratégia de comunicação também se fazem de bandeiras, que vendem uma imagem idealizada dos partidos. E promessas, muitas promessas. 

Conscientes do desgaste que sofreram e da impopularidade que conquistaram com as medidas de austeridade impostas ao longo dos últimos quatro anos, sociais-democratas e centristas avançam com lemas como “confiança”, “estabilidade” e “previsibilidade”, como garantias de que podem dar ao eleitorado. 

E agarram-se aos dados que começam a apontar para o crescimento da economia, a par da diminuição do desemprego – esperançosos de que o emprego do Verão possa ajudar a inverter mais a tendência. 

A direita ‘previsível’

O discurso é desconstruído no Largo do Rato. “PSD e CDS dizem que os sacrifícios valeram a pena, mas sabemos que os portugueses sofreram a troco de nada. O país está pior que em 2011”, resume ao SOL o dirigente socialista Pedro Nuno Santos. O socialista refere que as circunstâncias que têm beneficiado o país, como as taxas de juro baixas, a desvalorização do euro e o preço do petróleo, “não têm que ver com o Governo e são precárias”. A insistência na mesma política é uma “repetição de uma estratégia que fracassou” e é isso que o PS vai atacar. 

Para os socialistas, um exemplo paradigmático de que PSD e CDS pretendem continuar com a austeridade é o corte de 600 milhões de euros na Segurança Social, que o Governo ainda não disse como vai alcançar. Mas que os socialistas consideram evidente: a direita quer novos cortes nas pensões. “Há uma insistência obsessiva em novos cortes aos pensionistas. As pessoas têm memória e vão lembrar-se da grande crueldade social deste Governo”, garante o secretário nacional do PS Sérgio Sousa Pinto. Os pensionistas são um eleitorado importante e os cortes nas pensões prometem ser um dos temas quentes na campanha. Aliás, são as medidas na área da Segurança Social que têm gerado mais polémica nos dois lados da barricada.

PS afasta lastro socrático

Se a direita atira com o regresso ao passado, os socialistas já passaram ao contra-ataque. A proposta de obrigar a uma maioria de dois terços para aprovar grandes obras públicas foi um sinal claro que António Costa quis dar de que fará diferente em áreas que foram críticas em anteriores governos socialistas. 

Também não é por acaso que o nome escolhido para o programa eleitoral seja ‘Alternativa de confiança’. Confiança, inovação, rendimento, emprego e rigor são as palavras-chave no Largo do Rato. Os socialistas defendem que vão conseguir pôr fim à austeridade com uma política de crescimento económico e devolvendo rendimentos às famílias. “A prioridade deve ser o crescimento económico, com uma política de rendimentos e regresso do investimento, não apenas público”, explica Sérgio Sousa Pinto.

À ideia de alternativa com que os socialistas se apresentam, a maioria PSD/CDS contrapõe a “instabilidade e oscilação” do PS, nas palavras de um membro da direcção de Portas. “Não se percebe se vai mais para o centro ou para a esquerda”, sublinha a mesma fonte, reforçando que “com esta maioria os portugueses já sabem com o que contam, já estiveram pior, hoje estão melhor. Não é uma aposta no escuro”.  

O fantasma de José Sócrates paira também sobre as cabeças dos socialistas. Entre os costistas, o sentimento é o de que a libertação do ex-primeiro-ministro antes da campanha será catastrófica. O ‘animal feroz’ a acertar contas com a Justiça terá repercussões incalculáveis para o PS – e esta é uma variável que Costa não poderá controlar.

Sobre Sócrates, um vice-presidente do PSD garante: “Não vamos personalizar nem alimentar campanhas negras”. Mas a assume que, no que toca a políticas, a coligação vai fazer o “paralelismo entre o que foram as opções políticas do PS no passado e as de Costa agora”. Ou seja, mostrar que o PS de Costa é mais do mesmo.

A coligação PSD e CDS aponta também a falta de equipa de António Costa: “Não há novidades, é ele que vai a todas. É one man show”, aponta um vice-presidente do CDS, cuja opinião é secundada por um vice do PSD.

Outra arma da maioria PSD/CDS é a Grécia. Costa colou-se à vitória do Syrisa e só num segundo momento travou a euforia. Sociais-democratas e centristas acreditam que, com o rumo que a Grécia está a tomar, “ainda pode vir a revelar-se uma bomba nas mãos dos socialistas”. Por contraponto ficará claro que, “se tivéssemos seguido o caminho defendido por Costa, estaríamos como está hoje a Grécia”, reforça um vice de Passos.