Seguristas à espera de um sinal de Costa

As listas de deputados são aguardadas com nervosismo no grupo de socialistas que formaram o núcleo político de António José Seguro. O fantasma de uma ‘limpeza de seguristas’ alimenta conversas da minoria, que se reúne  com regularidade semanal.

A Convenção Nacional do PS passou uma ideia de unidade interna – muito pelo 'regresso' de Francisco Assis (que havia saído  zangado com a 'syrização' do Congresso, em Novembro), e pelas intervenções de Manuel Alegre e Maria de Belém Roseira. Contudo, com a excepção da ex-presidente do PS (e do ex-líder parlamentar Carlos Zorrinho), os que estiveram com Seguro não apareceram nos discursos do Coliseu.

Em altura de preparação de eleições, o silêncio prudente é a regra. “O que dou conta é de uma incerteza. Ninguém sabe de nada a não ser o próprio Costa”, diz um deputado da ala segurista. Oficialmente, a “questão do Seguro não existe” e “há um discurso inclusivo de António Costa”, nota.

O discurso existe, de facto, e Álvaro Beleza, secretário nacional do PS com Seguro, que na transição para a liderança de Costa negociou a integração da minoria nos novos órgãos de direcção, está agora atento ao que se passa na escolha dos deputados. “Assumi a responsabilidade de contribuir para a unidade do partido e para a sua pluralidade. Estou convencido que o apoio ao anterior secretário-geral não será uma razão de exclusão. O critério será a qualidade das pessoas e a renovação das listas”, diz ao SOL.

Entre os seguristas, porém, as certeza são poucas. Eurico Brilhante Dias, que passou da direcção de Seguro para o Gabinete de Estudos, o grupo que preparou o programa eleitoral do PS, é dado como um dos que tem hipóteses de ter um lugar em S. Bento. Jamila, como Eurico, membro da direcção de Seguro, pode também ser deputada.

Alberto Martins, líder parlamentar de Seguro, é o caso mais evidente de afastamento. Passou a ser “quase invisível” neste novo consulado. E sem garantia de um papel activo na nova estrutura, estará ainda assim activo nas movimentações que preparam as legislativas e as presidenciais.

Falar de presidenciais implica referir Maria de Belém. O discurso na Convenção faz parte de um percurso que, para os seus apoiantes, levará a uma candidatura a PR. Mais provavelmente após as legislativas. “Ela quer”, garantem vários seguristas. E a ex-ministra da Saúde “está a recolher apoios até fora do PS”.

Miguel Laranjeiro era um elemento fundamental na máquina partidária de Seguro. O deputado é outro dos que prima pela discrição. As suas hipóteses de permanecer deputado dependem da  influência que conseguir na distrital de Braga.

Falta referir Beleza, claro. O médico tem tendado manter o estatuto de rosto principal da minoria e procura continuar a ser o negociador de serviço.  Não assume o interesse num lugar no Parlamento, mas o seu desprendimento não vai ao ponto de recusar responsabilidades.

Há ainda os seguristas que mudaram de vida. O conselheiro económico Óscar Gaspar (ex-governante de Sócrates) trabalha na Merck, Sharp & Dohme. A indústria farmacêutica (na Apifarma) foi ainda o destino de Miguel Ginestal, chefe de gabinete de Seguro.

Já Luís Bernardo, o principal conselheiro de comunicação de Seguro, está agora concentrado em promover a imagem do Sporting. 

* Com Sónia Cerdeira

manuel.a.magalhaes@sol.pt