Duas ilações desta ‘tragédia grega’

Caiu por terra a ideia que se foi criando sobre o governo grego. Com o passar do tempo percebemos bem que a legitima mas impraticável política anti-austeridade do Syriza era, afinal, mesmo um conto de criança. Talvez ainda não seja hoje que a Europa conheça o desfecho das negociações com os gregos mas de uma…

Se recordarmos as intenções iniciais de Tsipras lembramo-nos certamente e expressões como  “rasgar as injustiças do memorando” ou "após cinco anos de um resgate bárbaro o nosso povo não aguenta mais". Em Fevereiro deste ano o Syriza apresentava ao povo grego, mas sobretudo à Europa, o seu programa eleitoral. As medidas eram de ruptura, não houve quem duvidasse, e a ameaça estava logo ali. "Temos um plano realista e uma tática de negociação forte. Não servimos outros interesses que não sejam os dos gregos", afirmava o novo líder do povo grego naquela que foi a confirmação de uma noite histórica na europa. Houve até quem, por cá, tivesse descrito o momento como “um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha”, lembra-se? Mas isso, por agora, é só um pormenor.

A determinação, legitima entenda-se, do Syriza passava assim por reabrir a televisão pública, reformar as forças de segurança, travar a venda, criminosa como afirmou Tsipras, das infraestruturas e redes nacionais para pagar a dívida, não reduzir as pensões e não aumentar a idade da reforma, pagar um mês extra aos pensionistas com baixas pensões, readmitir os funcionários públicos despedidos, entre um conjunto vasto de outras propostas. Era, de facto, um “murro no estômago” à política de austeridade e Tsipras afirmava-se como uma espécie de Robin Hood dos tempos modernos implacável com esse malvado Xerife de Nottingham que é a Europa. E isso, quer queiramos quer não, acalentou a esperança de que a Europa iria inevitavelmente mudar.

Mas quatro meses bastaram para que “a tática de negociação forte” que Tsipras havia anunciado cedesse à realidade da dificuldade económico-financeira que a Europa atravessa. As últimas propostas do governo grego são disso exemplo. A reforma/aumento do IVA que se traduzirá num aumento de receita até 2016 na ordem dos 2 mil milhões de euros, as restrições às reformas antecipadas, o aumento das contribuições de saúde dos pensionistas, o imposto especial de 12% para empresas com lucros acima dos 500 mil euros, a venda das licenças 4G e 5G e o aumento da TSU são algumas das novas medidas propostas por Tsipras. 

Portanto de uma política a doer, o governo de Tsipras viu forçado a mostrar-se disponível a submeter o seu povo a alguns, para não dizer muitos, sacrifícios.

Assim a primeira ilação que podemos tirar é que o recuo de Tsipras não é divergente com as suas afirmações de fevereiro último. O Governo grego está a cumprir a sua palavra e a servir os interesses dos gregos. Porque havendo acordo não tenhamos dúvidas que será alcançado em prol do povo grego. Já não consigo afirmar se será em prol de Tsipras mas isso, como alguém um dia disse, faz parte da função.

A segunda ilação, que me parece evidente, é que este recuo do governo grego compromete, e de que maneira, as oposições europeias e as criticas que têm feito aos governos que combatem. E compromete por uma razão muito simples. As pessoas percebem que depois de tantos sacrifícios prometer mundos e fundos só pode dar asneira e ninguém quer passar por tudo outra vez. Não tenhamos dúvidas que esta encruzilhada grega é também uma encruzilhada para as oposições que nalguns casos, como é o de Portugal, não terá como reverter tudo o que já prometeu. 

* deputado do PSD