‘Imposto do frango’ pode ter os dias contados nos EUA

Sabe que o carro mais vendido nos Estados Unidos, há mais de 30 anos, é uma carrinha pick-up? Apesar disso, contam-se pelos dedos os modelos de marcas não americanas, tudo devido ao chamado ‘imposto do frango’. A taxa, com mais de 50 anos, pode ser eliminada em breve, segundo o Automotive News.

O nome da lei pode parecer estranho, mas a explicação é simples. No início dos anos 60 começaram a chegar à Europa frangos para consumo a preços muito baixos. Foi na altura em que a criação de aves começou a ser industrializada e o consumo se massificou, no entanto os países europeus viram-se a braços com a descida abrupta dos preços da carne. Um imposto criado pela França e pela Alemanha, e depois estendido a outros países, ajudou a travar a invasão americana, mas os EUA rapidamente deram a sua resposta.

Em 1963, o Presidente Lyndon B. Johnson impôs uma taxa de 25% para vários produtos, incluindo pick-ups e veículos comerciais. O objectivo principal era ‘atingir’ a Volkswagen e foi conseguido. Os anos passaram e só o imposto dos automóveis se mantém, servindo de protecção às gigantes americanas Ford, General Motors e Chrysler.

A campeã Ford F-150 lidera o mercado dos EUA desde 1982 (em geral, não só o das pick-up) e os modelos Chevrolet Silverado e RAM também figuram no topo. Já as carrinhas 4×4 da Nissan, Toyota e Honda – os únicos ‘estrangeiros’ do mercado, por serem produzidos nos Estados Unidos, ficam muito abaixo na tabela de vendas, ao contrário dos carros de passageiros dessas e de outras marcas internacionais.

Segundo o Automotive News, a alteração deste ‘imposto do frango’ pode estar para breve, talvez ainda durante a administração Obama. Foi aprovada na semana passada uma lei que permite ao Presidente negociar acordos de comércio livre e enviá-los para o Congresso, para votação sem emendas. Isso não garante aprovações, mas facilita e acelera a votação de uma legislação nesse sentido.

O jornal especializado indica que pode estar em marcha um acordo transatlântico e outro transpacífico, que abrem a porta às pick-up asiáticas e europeias. No entanto, algumas fontes do Automotive News lembram que a descida da taxa de 25% pode ser muito gradual e demorar ainda décadas.

A Toyota, a Honda e a Nissan têm modelos de pick-up específicos para o mercado americano, mas há outras marcas e modelos que, apesar de muito conhecidos na Europa, estão ausentes do mercado norte-americano. A Volkswagen Amarok, a Mazda BT-50 e a Mitsubishi L200 são exemplo disso. Depois há projectos de novas carrinhas 4×4 da Hyundai e até da Mercedes, que podem ter marcha acelerada se o horizonte americano estiver mais perto.

Curiosamente, o ‘imposto do frango’ afectou até as empresas americanas que pretendia proteger. Há alguns anos, com o aumento dos preços de petróleo e a crise instalada um pouco por todo o mundo, a Ford decidiu que a pequena carrinha comercial Transit Connect era um produto interessante para os Estados Unidos. Até recentemente, para escapar à taxa, as carrinhas fabricadas na Turquia seguiam com vidros e bancos traseiros, sendo estes retirados e reciclados à chegada, numa unidade de Baltimore, para ficar apenas espaço de carga. E a pick-up Ford Ranger deixou de ser fabricada nos Estados Unidos, pelo que agora está à venda apenas noutros países.

emanuel.costa@sol.pt