Falta promoção na arquitectura

Não é novidade que os projectos portugueses na área da arquitectura são reconhecidos e admirados no estrangeiro, já não falando do mérito dos nossos arquitectos, sobretudo depois de termos sido contemplados com dois prémios Pritzker – o ‘Nobel’ da área -, para os arquitectos Souto de Moura e Siza Vieira.

São muitos os profissionais portugueses da arquitectura premiados além fronteiras, mas mais importante do que isso é o abrir das portas ao trabalho internacional para muitos arquitectos e para os gabinetes em geral.

O gabinete Pedra Silva Architects é um exemplo disso, tendo sido premiado várias vezes – a 'sua' Associação Fraunhofer, no Porto, venceu em 2011 o Edifício do Ano, na categoria de interiores, uma distinção dada pelo prestigiado site de arquitectura ArchDaily -, e este ano já conquistou uma menção honrosa no The Plan Award 2015, também em interiores. Outros prémios têm catapultado a empresa para uma dimensão internacional.

Para o arquitecto Luís Pedra Silva, o facto de já terem alcançado reconhecimento internacional trouxe sobretudo maior visibilidade e segurança para aceitar novos desafios em qualquer parte do mundo. “Não alterou a forma de responder aos projectos, mas tornou-nos mais visíveis e procurados, sobretudo por termos tido esses prémios e distinções. A validação, nacional ou internacional não é essencial, mas é um motor para novos projectos que temos aproveitado para continuar a crescer”, revelou ao SOL.

A crise em Portugal tem sido superada sobretudo com trabalho fora do país, que correspondeu mais a um interesse no trabalho do gabinete de arquitectura português do que a uma procura do próprio gabinete.

Claro que a coincidência de ter trabalhos externos numa altura de falta de trabalho em Portugal permitiu ao atelier estar em contraciclo e ultrapassar os piores momentos com fases de grande energia. “Isso deu ânimo também para responder a alguns concursos nacionais e internacionais, tendo ficado classificados em 1.º lugar no Concurso Público para o Museu Zer0, em Tavira, projecto que estamos a desenvolver actualmente”, explica Luís Pedra Silva.

O Pedra Silva Architects tem realizado projectos em Portugal, Reino Unido, Rússia, Austrália, Moçambique e Espanha.

Poucos escritórios com capacidade de exportar

Apesar do sucesso da arquitectura a nível internacional, falta ainda uma estratégia de promoção internacional da arquitectura portuguesa enquanto centro de competência. Quem o afirma é o arquitecto Nuno Leónidas, responsável pelo gabinete NLA – Nuno Leónidas Arquitectos, com trabalho reconhecido e premiado a nível internacional. É um dos arquitectos portugueses com mais experiência nos projectos da área do turismo.

Na sua opinião, existem poucos escritórios organizados e com capacidade para exportar. “Acresce o facto de o excesso de individualismo da generalidade dos arquitectos, não ensejar a desejada capacidade associativa, que permite ganhar músculo e dimensão para estar presente nos mercados externos”, salientou ao SOL.

Também a falta da estratégia de promoção internacional da arquitectura portuguesa, como já referiu, tem estado limitada na devoção à volta de algumas estrelas, o que torna a competição desigual face ao proteccionismo de outros países de destino, e face à promoção institucional de outros países tradicionalmente exportadores de serviços de arquitectura. “E aqui, se comparamos a nossa dimensão com a dos escritórios desses países exportadores, somos umas formigas a lutar num universo de gigantes. Por isso os sucessos que os escritórios portugueses têm tido lá fora foram conseguidos em condições mais difíceis e revelam a sua grande competência e capacidade”, sublinha o arquitecto.

Contudo, o futuro para os arquitectos portugueses, na opinião de Nuno Leónidas, estará na internacionalização das suas competências e na busca da excelência. “Os mercados da Lusofonia serão à partida os mais imediatos, mas é preciso prestar atenção aos continentes emergentes em geral, América do Sul e África. Todavia, são mercados existentes em termos de tempo e recursos, só ultrapassáveis com a capacidade de associação e networking”, conclui.

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