‘Queria ser o Conan O’Brien português’

Vasco Palmeirim queria fazer televisão e só lhe deu para a rádio já no último ano do curso de Comunicação Social na Universidade Católica. Acabou por ir estagiar para a Mega FM e hoje é um dos animadores das manhãs da Rádio Comercial.

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sabia que é o único da equipa das manhãs da rádio comercial que não tem página na wikipedia?
pois sou. já estou a tratar do assunto [risos].

‘googla-se’ muitas vezes?
‘googlo’ bastante. há quem não o faça, há quem o faça e não o diga, eu faço e assumo. ‘googlo-me’ não para alimentar o ego, mas para saber o que as pessoas pensam sobre aquilo que eu faço.

já dá por si a ser reconhecido na rua?
sim. é engraçado porque estou naquela fase em que dou por mim a reconhecer sinais de que as pessoas me reconheceram. noutro dia estava sentado no metro e ao meu lado havia um lugar vago. chegou um casal, a senhora sentou-se, olhou para mim e discretamente quis dizer ao marido que eu era o palmeirim da rádio. então começou [faz uma voz sussurrada]: ‘é o palmeiriiiim’. ele não percebia. ‘o palmeiriiiiim’. às tantas perguntei se ela queria que eu fosse chamar o marido [risos]. costumo dizer que a recompensa por acordar tão cedo – às 05h30 – é o reconhecimento que recebemos. a parte chata é, nos festivais, aturar a malta bêbeda.

é como se as pessoas o conhecessem…
sim. e no fundo, para muita gente, eu e o resto da equipa – o pedro [ribeiro], a vanda [miranda] e o nuno [markl] – somos a primeira voz do dia das pessoas. isso dá-nos uma responsabilidade grande. por isso, quando nos pedem uma palavrinha ou um abraço, fazemos questão de dar.

às vezes é preciso forçar o bom humor?
todos nós temos dias maus. e aí vem ao de cima a grande vantagem de termos um programa a quatro. se alguém está em baixo, os outros três levantam, às vezes de forma inconsciente, o moral daquele que teve uma noite má ou um dia mau. um dos segredos para aquilo resultar é o facto de nos darmos tão bem, dentro e fora do estúdio.

às vezes perdem a noção de que estão a falar para muita gente?
uma das coisas boas que uma vez nos disseram foi: ‘gosto muito do programa, porque parece que estão ali comigo na mesa do café’. às vezes perdemos mesmo a noção de que estamos a fazer um programa de rádio. estamos tão entre nós a conversar que nos esquecemos de que há 700 mil pessoas a ouvir. depois paramos e pensamos: ‘será que isto foi demasiado entre nós?’.

isso pode ser mau…
pode. sem querer, podemos fazer piadas privadas que as pessoas não percebem… é preciso pôr sempre o ouvinte ali connosco, sentado naquela quinta cadeira.

têm um guião?
temos o programa preparado, sabemos de que temas vamos falar e temos uns tópicos para cada tema, mas não temos um guião. é bom haver uma base, mas o resto é improviso. a receita está lá, a forma como fazemos o bolo muda de dia para dia.

e a história das músicas?
já o fazia na mega fm, mas o bicho aumentou e cresceu muito devido ao facebook e ao youtube. as pessoas adoram ver figuras tristes. eu sou o primeiro a dizer que não canto a ponta de um corno, mas é isso que as pessoas gostam.

e tudo começou como?
na comercial, a primeira canção que teve êxito foi uma dedicada à filha do yannick djaló e da luciana abreu, a lyonce viiktórya. um dia à noite, cheguei a casa, abri o facebook e estava toda a gente a fazer piadas com o nome da miúda. tudo começou com uma piada no facebook – ‘já estou a imaginar o próximo hit de verão: mas como se escreve o nome da criança?’. lembrei-me de fazer uma música. fui ao youtube, encontrei um instrumental, fiz a letra e mandei uma mensagem ao pedro e ao nuno a dizer: ‘amanhã vou cantar’. ‘vais cantar?! vais cantar o quê?’. ‘é surpresa’. no dia seguinte, o pedro lançou a música e eu comecei a cantar. eles choraram a rir. esse foi o primeiro grande sucesso. a partir daí o bichinho cresceu. as pessoas querem mais e mais, mas há que ter cuidado para não banalizar a coisa.

já teve reacções dos visados?
da luciana. achou um piadão. até disse à sic que já sabia a música de cor e que até a cantava para a miúda. e nunca me esqueci do que ela disse a seguir: ‘mas ela não percebe, coitadinha’. coitadinha?! luciana, foste tu que deste o nome à miúda pá, não fomos nós!

licenciou-se em comunicação social na católica. a rádio já era um objectivo?
não. nunca a rádio me passou pela cabeça, a não ser já no último ano do curso. fui para comunicação porque queria fazer televisão. queria ser o conan o’brien português. só quando tive comunicação radiofónica é que percebi que aquela era a forma certa de expor toda a minha parvoíce.

já tinha queda para a parvoíce?
foi um late bloom. comecei muito tímido, fui-me soltando, a parvoíce de repente apareceu e pensei: ‘é isto que eu quero’. depois fui estagiar para a mega fm.

e a ideia da televisão neste momento?
felizmente é uma coisa que também já apareceu na minha vida. já vou no segundo programa no canal q. primeiro tive um chamado a rede. originalmente, era apresentado pelo nuno markl e pela ana markl e eu fui substituir o nuno quando ele saiu. como tenho boa química com markls, agora eu e a ana estamos a fazer um programa para mulheres chamado a costela de adão.

vê-se com o rótulo de humorista?
não. tenho o maior respeito pelos humoristas. sou um radialista e limito-me a fazer muitas parvoíces e a tentar ter piada.

é muito ténue a fronteira entre a boa disposição e a palhaçada?
esse é o nosso maior desafio. é uma fronteira muito ténue e nós jogamos muito nessa corda bamba. é muito fácil cair, mas também é para isso que nos pagam ordenados milionários [risos].

que história foi essa da polícia na rádio?
foi uma história completamente insólita passada na mega fm. estava num estúdio reservado para gravação a gravar um sketch sobre casos de polícia. basicamente, estava a correr contra as paredes e a gritar: ‘socorro! polícia!’. mas, antes de mim, tinha estado alguém naquela sala e tinha-se esquecido de descarregar um botão. com esse botão carregado tudo o que fosse dito ia para o ar…

em cima da emissão?
sim. estavam as pessoas a ouvir música e às tantas há alguém que começa aos gritos: ‘polícia! socorro!’. começaram a tocar os telefones da rádio: ‘está tudo bem?’. ‘sim, porquê?’. ‘é que alguém está chamar a polícia’. nesse momento, olharam para o estúdio e estava um puto aos gritos a atirar-se contra as paredes.

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jose.fialho@sol.pt