Ex-alunos da Lusófona pedem atestados para os patrões

Licenciados com grau em risco pedem declaração à Lusófona para provarem que não são responsáveis pelas equivalências polémicas.

Antigos alunos da Lusófona com as licenciaturas em risco estão a pedir declarações à universidade  para poderem tranquilizar as chefias das empresas onde trabalham. Foi o que aconteceu já, por exemplo, na Caixa Geral de Depósitos (CGD), onde seis funcionários do Gabinete de Prevenção e Segurança fizeram chegar à direcção do banco um documento dos serviços académicos a explicar o seu processo.

Estes trabalhadores, que se licenciaram em Estudos de Segurança na Lusófona, em 2011 e em 2013, estão preocupados com a polémica gerada com as anulações das equivalências dadas nos seus cursos e nos de outros antigos estudantes – num total de 151 –, que vão obrigar os ex-alunos a reinscrever-se na universidade para manter os diplomas. Ocupam funções técnicas e cargos de chefia na CGD e quiseram prestar contas da situação à administração.

‘Fomos apanhados de surpresa’

«Cá dentro, tudo isto caiu muito mal porque dá a imagem de que fizemos o curso de forma ligeira, quando estudamos três anos, no meu caso à noite, roubando tempo à minha vida pessoal e à família» – justifica ao SOL um dos funcionários do Gabinete de Prevenção e Segurança da CGD, que não quis ser identificado, lembrando que foram «apanhados de surpresa» neste processo. «Fizemos um curso que era legal e certificado pelas mesmas autoridades que agora vêm pô-lo em causa».

Nas declarações nominais que estes funcionários da CGD apresentaram às chefias, na semana passada, a universidade assegura, caso a caso, que está a corrigir a situação. Este pedido de justificação é, aliás, o procedimento que o advogado José Valério está a aconselhar não só aos funcionários da Caixa, mas também aos outros seis licenciados em Estudos de Segurança que representa, entre eles agentes da PSP, PJ e Polícia Municipal. «Neste documento, a universidade assume que tem responsabilidades exclusivas neste processo», diz ao SOL, justificando que os seus clientes «são altamente qualificados, alguns até davam formação e agora vêem as suas vidas profissionais em causa». A maioria tem 30 anos de carreira, não querendo ficar com esta mancha profissional.

Muitas dúvidas

Perante a polémica em torno das declarações do Ministério da Educação e Ciência – que na semana passada acusou a Universidade de desvalorizar as ilegalidades detectadas e de «criar expectativas infundadas aos alunos» – o advogado pediu explicações à Lusófona. «Quero perceber o que está verdadeiramente em causa: se são ilegalidades ou irregularidades processuais e administrativas, pois há uma avaliação jurídica que só é possível fazer se tivermos todos os dados», justifica.

Até ao mês passado, a Lusófona, a quem o MEC ameaçou retirar o reconhecimento de interesse público se não resolver o problema, já tinha contactado 102 antigos estudantes que se mostraram disponíveis para rever a sua situação e assim manterem o grau académico.

A muitos deles, os responsáveis académicos  falam num problema meramente administrativo: «Foi o que me disseram quando fui contactado em Fevereiro, mas depois pediram-me que me reinscrevesse em duas cadeiras e fiquei desconfiado», conta ao SOL um contabilista, que se licenciou na Lusófona em 2011, em Contabilidade Fiscalidade e Auditoria, área onde trabalha há mais de 20 anos. «Nunca me disseram que o curso estava em risco, mas pediram-me o certificado de habilitações e garantiram que me vão entregar um novo em breve», adianta. Este antigo aluno nunca suspeitou de problemas porque, para fazer o curso, e apesar de já ter frequentado dois anos de uma licenciatura superior em Contabilidade, teve «de recomeçar quase do princípio, tendo obtido equivalência a poucas cadeiras».

Apesar das garantias dadas pela Universidade a muitos ex-alunos de que o processo é burocrático, a anulação de cadeiras vai mesmo implicar para muitos o regresso às aulas, assegura o Ministério da Educação. O certo é que todos terão de voltar a inscrever-se na universidade, «quer para fazer unidades curriculares em falta, quer para rever processos de creditação».

Já a Lusófona não quer alimentar mais controvérsia. «Estamos a analisar todas as situações caso a caso. O nosso objectivo é proteger os alunos», diz fonte da universidade.