Grécia resiste

Tenho de admitir que não esperava um resultado tão nítido e expressivo do ‘não’ no referendo grego – quer pelas sondagens conhecidas, quer pela encenação das bichas nos bancos e das farmácias esgotadas, em conjugação com as ameaças europeias. Esperava e desejava uma vitória do ‘não’ (no entanto, tangencial, como indicavam as sondagens), por achar…

E agora? Quererá a Europa insistir numa solução que tem dado péssimos resultados, como admitem os seus autores (embora sem quererem sair dela, por terem uma formação autoritária, e acharem tecnocraticamente e marxísticamente haver apenas uma solução para o caso?). Não há gente pior do que os defensores da solução única. Sem repararem, deitam às ortigas qualquer ideia de democracia, alternativa, ou escolha.

Os menos qualificados têm-se mostrado muito durões. Quem manda, que é Merkel, comporta-se com maior distância e calma (consta que até admitiu considerar o mais inepto dos gregos com quem negociou o líder de um partido irmão do seu, da Nova Democracia, que se demitiu com o resultado clamoroso do referendo). O problema é saber se depois de ela soltar na Alemanha diabos falsos (como a ideia de que os periféricos do Sul tinham mais férias e trabalhavam menos horas dos que os alemães), e perante a popularidade local do seu durão ministro Schauble, ainda vai conseguir recompor as coisas com a ajuda dos franceses (que de repente saltaram com atitudes brandas em relação a Atenas). Porque o seu eleitorado é de vistas curtas, e acha os excedentes nacionais só seus, sem sequer querer reconhecer o que recebeu de outros países europeus (designadamente da Grécia, que roubou e destruiu na II Guerra).

Uma coisa é certa: eu não me convenço que se Portugal e Espanha (parece que por causa disso Guindos já perdeu a hipótese de presidir ao Eurogrupo, o que me custa um bocado, porque não suporto o holandês inominável, e que nada ali fez, a não ser fazer com que eu já não ligue nenhuma às reuniões do Eurogrupo, mas apenas às do Conselho Europeu, em que participa Merkel), enfim, se eles tomaram como dizem alemães e franceses atitudes mais fechados, o fizessem contrariando a sua posição sempre submissa relativamente a Merkel. Tornaram-se de repente uns homenzinhos os nossos chefes de Governo? Hum!… Duvido.