O texto é particularmente estimulante, mas constitui apenas mais uma peça de um processo de resistência que tem vindo a encontrar expressões várias em universidades um pouco por todo o mundo e nas mais diversas áreas científicas – resistência à transformação da universidade segundo lógicas produtivistas, apoiadas em métodos de seleçcão e avaliação quantitativos e em concepções puramente instrumentais dos processos de construção do conhecimento.
A boa ciência, na verdade, é 'lenta', isto é, faz-se segundo tempos que lhe são próprios – tempo para ler, escrever, analisar, ensinar, investigar, experimentar, errar, organizar, comunicar, partilhar – e que não se conformam com processos em que a satisfação do urgente significa muitas vezes o esquecimento do importante.
Uma das coisas mais simples, mas também mais relevantes, que se podem ensinar a quem pretende formar-se como investigador é que, em ciência, queimar etapas ou ter horizontes de curto prazo significa sempre fazer má ciência.
Num momento em que, com reflexo em opiniões de comentadores supostamente encartados, se vai difundindo a mensagem, redondamente falsa, de que a educação é supérflua e que em Portugal há diplomados em excesso, é tanto mais importante reflectir sobre estas questões.
Cultivar o tempo de uma 'ciência lenta' significa, também, ter a percepção de que a formação especializada não é tudo e de que as universidades são o lugar adequado para aprender que os saberes são múltiplos e que, sem a consciência dessa multiplicidade, nenhum especialista será um bom especialista.
Por isso mesmo (seguindo aliás tendências há muito estabelecidas internacionalmente), algumas instituições entre nós – entre elas, a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que se prepara para implantar uma ampla reforma da oferta formativa a partir do próximo ano lectivo – têm vindo cada vez mais a oferecer percursos de formação não confinados em áreas disciplinares estreitas, capazes de abrir, e não de fechar, os tempos da busca permanente do conhecimento.