As presidenciais no seu labirinto…

A esquerda festiva, de inspiração Syriza, foi quem se adiantou primeiro a apoiar, formalmente, Sampaio da Nóvoa. Esta avidez de protagonismo do Livre/Tempo de Avançar complicou ainda mais a vida ao PS e a António Costa. 

Resignados à desistência de Guterres, que seria uma escolha natural, os socialistas tardam em identificar-se com um candidato, e arrastam os pés em relação ao ex-reitor – exímio a somar banalidades – parecendo, também, irredutíveis em aceitar o voluntarismo de Henrique Neto, um socialista outsider.

Sem corar, o açoriano Carlos César, por acaso presidente do PS, fazia constar, ainda em Abril, que Sampaio da Nóvoa era «uma das personalidades que admiro e que melhor representa aquilo que no Portugal de hoje nós pensamos que é preciso».

Porém, em Julho, arrepiou caminho, admitindo que os socialistas poderão abster-se de dar uma indicação de voto, neste ou naquele candidato, para evitar «um processo fratricida». Bastaram escassos meses.

 

O discurso contraditório no interior do PS deve pôr Nóvoa com os nervos em franja. Com Eanes ao lado, já fala no excesso de «calculismos», e que as presidenciais não devem ser vistas como a «segunda volta das legislativas». A carapuça assenta que nem uma luva a César e a outros que fazem das piruetas o seu ofício.

Lançada a confusão, Nóvoa continua em terrenos do PS, embora se agrave a nebulosa em que se transformou o Largo do Rato.

O paradoxo é este: apesar de exibir o apoio de três ex-Presidentes da República, Nóvoa navega no meio de divisões profundas na família socialista, onde parece emergir a preferência por um candidato próprio – nem que seja ao estilo do PCP, só para marcar presença -, como seria o caso de Maria de Belém. 

O recuo de César e os silêncios de Costa ilustram as hesitações sobre as presidenciais, a juntar a outras desavenças conhecidas, com o Syriza e Sócrates de permeio. 

António José Seguro, no retiro sabático, deve agradecer à divina providência os caprichos do destino, que tanto embaraçam o seu sucessor, despojado da auréola sebastiânica…

O choque grego veio baralhar muito as coisas e as sequelas do referendo estão para durar. Em contraste com a pressa de Nóvoa – agora enfeitado nos media com um colar da extrema-esquerda -, a ‘concorrência’ que conta tem-se poupado. 

 

Até Rui Rio, com o ego afagado pelo ‘militante n.º 1’ do PSD, Francisco Balsemão – que o desafiou a montar o ‘cavalo do poder’ -, reagiu com medida parcimónia, não correndo a foguetes. Até ver. 

É certo que Marques Mendes – em versão de pitonisa de serviço na SIC -, antecipou-se a sugerir prazos para um eventual avanço de Rio. Nada garante, contudo, que não se engane, como já aconteceu. 

Promover o ex-autarca do Porto a candidato a Belém é quase tão extravagante como apostar em Alberto João Jardim. Ambos não passam de líderes regionais sem dimensão nacional, coisa que, pelo menos, o segundo, aparentemente intuiu, embora se divirta a fingir que não sabe. Se algum deles quiser, mesmo assim, cavalgar a onda, será uma causa quixotesca. Para eles e para o PSD. 

Balsemão tem-se esforçado, aliás, em chamar a si a iniciativa política, com um império mediático colado à pele.

Antes de patrocinar Rio, já propusera Durão Barroso para lhe suceder à frente do restrito clube de Bilderberg, com a vantagem de este ter presidido, durante uma década, à Comissão Europeia. 

O mesmo Barroso que interveio, recentemente, na apresentação do livro de Miguel Relvas, O Outro Lado da Governação, lançado numa luzida cerimónia. 

O autor da obra, num registo pró-memória, prossegue no seu afã de reabilitação, após uma saída em falso do Executivo de Passos Coelho.

 

No evento, nada foi deixado ao acaso, desde o prefácio de José Maria Aznar, ao elenco de convidados. Percebeu-se que Relvas não perdeu influência e que está empenhado em mostrá-lo. 

A proximidade dos acontecimentos dá que pensar. Entre Bilderberg e o livro de Relvas, há uma ponte invisível que une Balsemão e Barroso. São duas gerações que não desistiram da política. Nem das oportunidades.

Sabe-se há muito que Barroso não desdenharia ser o candidato da coligação a Belém. O pior foram os anticorpos de que se apercebeu ao desembarcar em Lisboa. Há quem teime em atribuir-lhe culpas pelos desastres de Santana Lopes e de Sócrates.

Se a vernissage foi ou não um ensaio para medir o pulso social-democrata em breve se desvendará. Uma coisa é certa: Barroso encaixa na perfeição no perfil ‘desenhado’ por Passos Coelho. E seria o único candidato presidencial, à direita, a fazer mossa às possíveis aspirações de Marcelo, obrigando-o a repensar calendários. 

À margem do livro, o elogio rasgado de Barroso ao primeiro-ministro ficou feito. A saída do labirinto não estará longe…