Uma semana no Novo Mundo

Cheguei à América numa quarta-feira no voo da Sata Lisboa-Boston, depois de sete horas que passaram depressa, entre um almoço ligeiro, dois filmes – Missed Girl e Birdman – e alguma leitura.

Gosto de voltar ao Novo Mundo – seja a Norte, seja a Sul, no Brasil. Lembro-me sempre daquela frase do Locke no Second Treatise: «In the beginning all the World was America». América no sentido de terra nova, virgem da velha civilização, próxima da natureza e do estado da natureza. Para o bem e para o mal.

Foi o que senti ao chegar a Boston: o dia estava quente, o mar bem azul (da cor do mar da Foz do Douro, o primeiro que vi) e havia uma linha de ilhotas verdes à entrada do porto. Sobrevoámos um pequeno bairro com casas que podiam ser do século XVII e aterrámos.

Depois da passagem pelas Forcas Caudinas da segurança aeroportuária, tomei a Jet Blue para Washington. Um táxi velho guiado por um paquistanês deixou-me no Fairfax de Embassy Row, ao lado da Embaixada de Portugal.

 

Foi uma reunião interessante – quase só sobre o Médio Oriente. Como tinha acabado de escrever O Islão e o Ocidente, estava à vontade. Don Rumsfeld admitia os erros cometidos no Iraque. Faço-lhe a justiça de acreditar que não estava a ser leviano nem que as suas razões fossem as dos neocons; queria, sobretudo, testar o novo exército americano que criara e ter-se-á ‘entusiasmado’ com a guerra. Outros sábios da região, como o embaixador Ryan Crocker, partilharam connosco análises realistas e pessimistas.

O modo mudou quanto ao Médio Oriente. Hoje ninguém se atreve a dizer as imbecilidades ideológicas que contribuíram para tornar muito mais perigosa uma situação que era, à partida, difícil e complexa.

 

De Washington fui de carro para a Virgínia do Norte, num domingo de Verão, muito americano, cruzando cidades cujos nomes reconheço da Guerra Civil. As duas capitais beligerantes – Washington e Richmond – estavam a menos de 150 quilómetros de distância. Fiquei em Charlottesville, numa das casas mais antigas da Virgínia, de visita a uns amigos.

Voei depois de Washington-Dulles para Nova Iorque e dali fui para o sul de Connecticut. Outra casa amiga, no meio de árvores mais novas que o Novo Mundo mas tão velhas como os Estados Unidos, num parque desenhado por Olmsted, o homem que fez o Central Park. Em Nova Iorque, no Blue Note, ouvi com uma ‘turma brasileira’ a Bebel Gilberto, filha do grande João Gilberto. Depois, durante o dia, livros, DVD da Criterion, algumas compras e almoço com um amigo português na Segunda Avenida. As exportações para a América dobraram e a questão das Lajes, graças a quem dela aqui tratou, é capaz de não acabar tão mal assim.

 

A América vive de si própria; a Grécia e a Europa são fait-divers, excepto para a imprensa ‘séria’, como o Wall Street Journal ou o New York Times. Há quase vinte candidatos à nomeação republicana e Hillary Clinton parece, por ora, inexpugnável entre os democratas. De resto, as TV falam de foragidos das prisões, de Donald Trump, de escândalos de estrelas e estrelinhas, do casamento gay e dos fogos do 4 de Julho.

Ainda é outro mundo. Novo.