Mosteiro de Alcobaça recebe Hotel de Charme

Já não é novidade que o património português pode receber bem o turismo e, sobretudo, adaptar-se a bonitos e atraentes hotéis de charme e de luxo. As memórias históricas – coabitando na maioria dos casos com o presente e com a decoração moderna – dão bons produtos turísticos. 

Para quem tem um património tão rico quanto Portugal, esta pode ser uma boa solução dar vida à História. Desta vez a proposta chega ao Mosteiro de Alcobaça, para a construção de um hotel de Charme com cerca de 80 quartos na zona do Claustro do Rachadouro. O investimento está estimado em 15 milhões de euros, prevendo-se a criação de 70 postos de trabalho.

A Direcção Geral do Património Cultural (DGPC) abriu um concurso público para a construção do hotel, que prevê a concessão do espaço por um prazo de 50 anos a partir da data da celebração do contrato. Segundo a DGPC, isso poderá acontecer no início de 2016.

O texto publicado em Diário da República estipula que a proposta vencedora será aquela “economicamente mais vantajosa”. Relativamente ao espaço, o concurso determina que os potenciais interessados na concessão do claustro e jardins envolventes apresentem “uma proposta concreta, do ponto de vista arquitectónico”.

Inscrito na lista do Património Mundial da UNESCO desde 1983, o Mosteiro de Alcobaça representa uma das primeiras presenças da Ordem de Cister em território português. As suas dependências medievais ainda bem conservadas fazem dele um conjunto único, a que se juntam as edificações posteriores dos séculos XVI a XVIII, e que constituem um importante testemunho da evolução da arquitectura nacional. Quanto ao Claustro do Rachadouro em particular, foi construído no século XVIII e serviu como lar residencial até 2002.

Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura, comentou que a melhor forma de contrariar a ruína de um edifício “é conferir-lhe um uso compatível com o seu destino inicial. Assim, a função residencial que foi sua, enquanto local de acolhimento permanente de monges cistercienses, encontrará paralelo na hospedagem de turistas que procurem a bela zona de Alcobaça”.

Torre e Casa de Gomariz, um bom exemplo de recuperação

Além de outras experiências que já conhecemos, um bom exemplo de aproveitamento do património histórico para o turismo observa-se na Torre e Casa de Gomariz, transformada recentemente em hotel de charme com a temática Wine & Spa.

Localizada na Freguesia de Cervães, em Vila Verde, a Torre e Casa de Gomariz é uma mansão senhorial que data dos finais do século XV, das muitas que o Minho ainda tem, implantada numa paisagem verdejante definida pela vinha e por uma frondosa mata de cinco hectares. Também quinta de produção de vinho, é o mais recente empreendimento hoteleiro da região minhota.

A reabilitação tem a assinatura da dupla de arquitectos Paulo Braga e Cristina Amaral, que, respeitando integralmente a traça da velha casa senhorial conferiu-lhe uma nova função de uso, transformando-a num moderno e sofisticado hotel de cinco estrelas. Os edifícios modernos, contíguos, oferecem uma “ligação única entre história, natureza e design, um toque de sofisticação, onde o clássico e o contemporâneo se fundem”, segundo uma nota de apresentação do hotel.

O Atelier Nini Andrade Silva, responsável pelo design e decoração interior, conferiu ao projecto um toque de contemporaneidade, onde se destacam “as linhas simples, as tonalidades naturais e pastel que conferem ao espaço uniformidade, bem-estar, conforto e um elevado padrão de funcionalidade”.

Dar uso para manter vivos os edifícios

A transformação do património histórico em unidades hoteleiras é por vezes merecedora de críticas, mas quase todos os especialistas asseguram que o uso das edificações ajuda na protecção das mesmas. Um edifício desabitado e sem uso é alvo de uma degradação mais rápida e por vezes irreversível. Já dizia o arquitecto Eduardo Souto de Moura, quando projectou a recuperação do Convento das Bernardas, em Tavira, que “um edifício desabitado é sinónimo de degradação e que os edifícios devem ser vividos, sobretudo os históricos”.

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