Frente e verso

Estive no NOS Alive, não vi este espectáculo. Pouco ou nada interessa. É espantoso: a partir de determinada altura da nossa vida tudo nos serve de recordação, tudo é motivo para termos saudades, mesmo das pessoas que ainda nos acompanham e não puderam estar. Viver as coisas (mesmo um espectáculo) sem as poder partilhar é…

Não falo apenas de amores. Sabemo-lo todos que não é possível termos muitos na nossa vida. Mesmo com doses generosas de imaginação, o espaço que temos para o absoluto não é infinito. Podemos ter 500 casos amorosos, mas amor-amor é uma impossibilidade. Conheço quem tenha amado mais do que uma vez; não me admiraria que se pudesse dar a vida em tempos diferentes por quatro ou cinco pessoas, mas nessa circunstância existe sempre uma tristeza implícita. É que um dia a mulher ou homem a quem amámos deixará de existir como antes, passará a ser uma memória que em nós terá o efeito de uma fotografia na sala, ou uma como esta. Amores são poucos, mas para voltarmos a amar realmente alguém teremos de esquecer quem amámos antes. Para que todos os espectáculos sejam momentos que não esquecemos. 

luis.osorio@sol.pt