Campas com corpos trocados no cemitério da Póvoa de Santa Iria

Durante sete anos, a mãe de Mónica Alexandra acreditou que os restos mortais que permaneciam sob a placa 737, no cemitério da Póvoa de Santa Iria (Vila Franca de Xira), eram os da sua filha, falecida no ano 2000 na sequência de um tumor cerebral numa clínica espanhola com apenas 20 anos.

Esta segunda-feira, porém, Maria José Colimão, de 66 anos, percebeu que houvera uma troca: Na campa da sua filha estava o corpo de outra pessoa, não-reclamado. No total, segundo o Jornal de Notícias, serão quatro os corpos trocados naquele cemitério desde 2008.

 

A Maria José foi uma vizinha, Betina Silva, quem deu a notícia. Betina percebeu a confusão ao pedir o levantamento das ossadas da mãe, falecida na mesma altura que Mónica Alexandra – depois de lhe entregarem o corpo de um homem em vez do correcto. Betina ligou-lhe na passada segunda-feira, garantindo ter reconhecido no cemitério, durante o levantamento das ossadas que exigiu à Junta de Freguesia da Póvoa de Santa Iria e do Forte da Casa no dia 13 de Julho, para procurar o corpo da sua mãe, o caixão de zinco em que Mónica fora transportada de Espanha.

 

Maria José dirigiu-se então, acompanhada do genro, Pedro Silva, à Junta de Freguesia, para serem recebidos pelo presidente da mesma, Jorge Ribeiro. “Após duas horas de espera, o presidente admitiu ter havido um ‘desalinhamento’”, contou ao SOL Pedro, cunhado de Mónica.

 

A sepultura onde a família acreditara estar o corpo de Mónica, cujo corpo ainda estará parcialmente intacto devido aos tratamentos de quimioterapia que realizou, foi ontem reaberta, pelas 10h da manhã, para proceder ao reconhecimento do corpo e revelar a sua identidade. As suspeitas da família confirmaram-se: «Era o corpo da Xana [Mónica]», assegura Pedro Silva.

 

A confusão entre as sepulturas terá acontecido em 2008, oito anos após vários enterros – quando as sepulturas foram abertas para transladação das ossadas. Como os cadáveres ainda estavam em decomposição, o processo foi adiado. Terá sido na reposição dos restos mortais que as placas de identificação foram trocadas.

 

O cunhado de Mónica, Pedro Silva, garante agora que a família irá avançar com um processo judicialcontra a Junta da Póvoa de Santa Iria. O valor pago em emolumentos, quando a família avançou com a cremação das ossadas, levadas para o jazigo da família a 10 de Julho último, foi hoje restituído à família.

 

Pedro Silva assegura ainda que o presidente, Jorge Ribeiro, já teria conhecimento “da história desde o dia 13 de Julho” – quando a vizinha Betina pediu o levantamento das ossadas da mãe –  e reserva-se o "direito de pensar" que terá havido uma tentativa por parte da autarquia de tentar “sonegar o caso”. 

 

“Também na morte há que haver respeito e dignidade”, conclui, explicando que o caixão com os restos de Mónica tem, finalmente, uma lápide.

 

Ao SOL, o presidente da Junta de Freguesia, Jorge Ribeiro, disse que “o assunto já foi devidamente esclarecido” com a família de Mónica e garantiu que a autarquia abriu um inquérito disciplinar interno para apurar responsabilidades no caso​.