Agricultores investem milhões em palácio

A Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (CONFAGRI) vai investir perto de seis milhões de euros numa mudança de sede para um palácio abandonado junto ao aeroporto de Lisboa – o Palácio Benagazil.

Ao que o SOL apurou, os elevados custos estão a causar indignação junto de associados daquela confederação de agricultores, que não compreendem como uma instituição que vive essencialmente de quotas tem dinheiro para se deslocar para um edifício de mais de um milhão de euros e para obras que deverão rondar os quatro milhões.

Por duas semanas consecutivas, o SOL insistiu no envio de um pedido de esclarecimento ao presidente da CONFAGRI, Manuel dos Santos Gomes, eleito recentemente para o cargo. As respostas nunca chegaram.

A organização que representa o sector cooperativo e o crédito agrícola é proprietária da sede que ocupa actualmente: um edifício de cinco pisos na Rua Maria Andrade, nos Anjos, em Lisboa. Em 2012, com o argumento de que precisava «com urgência» de uma nova sede para «realizar conferências e reuniões», a CONFAGRI pediu a ajuda da Câmara Municipal de Lisboa para identificar um terreno com uma área edificável para a construção de uma nova sede. Solução encontrada pela autarquia: o Palácio Benagazil, um edifício histórico com uma área de 5.000 metros quadrados, e que a câmara chegou a planear vender, em hasta pública, para se transformar num hotel de charme.

Mas o negócio não se ficou simplesmente pela compra do palácio. Em troca, a autarquia sugeriu ficar com a actual sede da CONFAGRI para implementar na cidade o projecto ‘Casas Regionais em Lisboa’. Devido às diferenças de valores dos dois imóveis, foi aprovada pela Assembleia Municipal de Lisboa, em Março de 2014, uma operação de permuta. Conclusão: em vez dos 1,35 milhões de euros que o palácio custava, a CONFAGRI só terá de pagar à câmara 100 mil euros.

Olhando só para estes números, a permuta até parecia um bom negócio. Só que a mudança traz outros custos. Só em obras de requalificação e de ampliação do palácio e da área envolvente, a confederação prevê gastar cerca de quatro milhões de euros, segundo avançou o presidente da CONFAGRI numa entrevista ao jornal Correio de Azeméis, no passado mês de Abril, e que está disponível online. «Vamos ter de os conseguir [os milhões] de alguma forma», afirmou.

 A este valor é preciso ainda juntar o custo dos equipamentos – ainda impossível de calcular – e as rendas, no valor de 270 mil euros, que nos próximos anos terão de ser pagas à autarquia. Isto porque até à conclusão das obras no palácio a CONFAGRI vai precisar de se manter na sua sede nos Anjos, que passou a ser da câmara. Conclusão: no primeiro ano terá de pagar à autarquia 60 mil euros de rendas. Passados esses 12 meses, terá de pagar 90 mil euros. E no terceiro ano, os encargos subirão para os 120 mil euros.

silvia.caneco@sol.pt