Samba no pé

Os números são impressionantes: 230 milhões de chinelos vendidos por ano, 200 mil pontos de venda oficiais, 2,4 mil milhões de Havaianas  fabricadas e vendidas desde 1962, data da fundação da empresa. E tudo começou com um escocês que no início do século XX rumou ao Brasil e começou a fazer alpargatas. O sucesso foi…

Inspiradas nas chinelas japonesas Zori, as primeiras de enfiar o dedo, as Havaianas substituíram o tecido das tiras e a corda das solas das congéneres japonesas por borracha e mantiveram a textura de grão de arroz em homenagem ao país do Sol Nascente. Depois do Japão, a marca foi até ao Havai buscar nova inspiração. «O nome surgiu porque nos anos 60, quando andavam à procura de nomes para a marca, sabiam que queriam algum nome aspiracional, que fizesse as pessoas sonhar. E nessa altura, um dos sítios no mundo que fazia os brasileiros suspirar era o Havai,  por causa do surf, da música… Era um sítio longínquo e toda a gente queria ter um bocadinho do Havai. E assim nasceram as Havaianas», conta-nos  em Madrid Eno Polo, presidente da marca.

A partir daí as famosas chinelas começaram a tornar-se populares principalmente entre as classes mais baixas. Tudo porque o governo brasileiro incluiu-as desde cedo na famosa cesta básica, onde estavam outros produtos como pão, o leite e o arroz. Em plena ditadura militar brasileira, nos anos 80, quando o governo fixou o preço destes produtos, quase ditou o fim da marca. Mesmo à beira da falência conseguiu reerguer-se graças a uma habilidosa campanha de marketing. «Isto foi conseguido através de um anúncio  na televisão, onde decidiram filmar alguns jogadores de futebol de topo, modelos e actrizes – todos brasileiros – a chegar a uma entrevista calçados com Havaianas. E quando lhes perguntavam:  tem umas Havaianas? Eles respondiam que andavam sempre de Havaianas, porque eram super confortáveis e por aí fora. Foi nesse momento – estávamos nos anos 90 – que as pessoas começaram a perceber que as Havaianas não eram só para uma classe baixa que usufruía da tal cesta básica».

Com a classe média rendida a esta nova descoberta, a marca conseguiu chegar ao patamar de símbolo de lifestyle carioca. Para cimentar esta conquista lançou uma edição especial para o Mundial  de Futebol de 1998, em França, e passado apenas cinco anos, chegou a Hollywood, com todos os nomeados para aos Óscares desse ano a ganharem um par de Havaianas customizado com cristais Swarovski. Entretanto, começaram também a exportar para a Europa. Portugal foi o primeiro país  a receber o espírito carioca que só depois chegou a Itália, Espanha e França, que hoje tem representações próprias. «Neste período as Havaianas deixaram realmente de ser vistas como um produto  básico para passarem a ser vista como um produto de lifestyle. Desde celebridades a pessoas pobres, todos calçavam o mesmo», destaca Eno.

Para aumentar ainda mais o valor da marca, as Havaianas começaram a apostar em parcerias. Depois da Swarovski, que ainda hoje mantém uma colaboração frequente, casas como Valentino, Missoni ou Paul & Joe quiseram estar ao lado do estilo de vida carioca.

E a marca promete não ficar por aqui. Para além dos modelos novos, muitos fruto de licenças de êxitos de bilheteira (com importantes repercussões nas vendas), neste momento está a expandir-se para a roupa de praia. «As Havaianas são o nosso core business e o que nós não queremos fazer é perder o rumo. Mas temos pensado sobre quais os produtos que podem complementar os chinelos, como um saco de praia, uma toalha,  pequenos acessórios. Por isso, no Brasil, foi lançado este ano roupa de praia, incluindo fatos de banho e biquinis, em três lojas como teste». Aparentemente o teste está a correr bem e Eno não descarta a hipótese de essa ser uma das novidades do Verão de 2016 na Europa. Mas haverá outras; uma colecção de homem mais diversificada, novos modelos de sandálias, parcerias com filmes que ainda serão lançados ao longo de 2015 e 2016, além de modelos com cores mais vibrantes. Tudo desculpas para continuar a espalhar o espírito carioca pelos quatro cantos do mundo. 

patricia.cintra@sol.pt