Turistas chineses em Portugal gastam muito e depressa

Ao fim de seis dias em Portugal, a turista chinesa Zhou Zhizhen nem quer acreditar: de cada vez que pede a conta num estabelecimento, ninguém se apressa a receber o dinheiro.

"Na China, o funcionário recolhe o pagamento de imediato e passa ao cliente seguinte, mas aqui parece que cobrar pelo serviço não é o mais importante", diz à agência Lusa a chinesa natural da cidade de Xiamen, uma das mais prósperas do país.

Adepta de viajar "sem pressa" e "à descoberta", Zhou distingue-se da maioria dos 113.200 compatriotas que em 2014 visitaram Portugal — o dobro de há dois anos – e gastaram 54 milhões de euros, quase 20 milhões a mais do que em 2013.

Miguel Cymbron, diretor de vendas de uma das maiores cadeias hoteleiras de Lisboa, define-os como "absolutamente psicocêntricos".

"O turista chinês não vem à descoberta por si, tem que ser tudo organizado (…) ele vem em excursões, com guia turístico, para ver os 'hotspots' da cidade", diz Cymbron sobre um mercado que já entrou no 'top 10' da sua empresa.

E entre os ex-líbris de eleição, o gestor hoteleiro não inclui apenas monumentos e paisagens: "Na China, nos centros comerciais e nas lojas, os preços são muitíssimos mais elevados do que aqui. Portugal poderá ser um achado até para produtos produzidos na terra deles". 

Em 2014, 109 milhões de chineses viajaram para fora da China Continental, transformando o país no maior emissor mundial de turistas, à frente dos Estados Unidos.

A totalidade dos gastos é igualmente inultrapassável: no mesmo período, deixaram no exterior 454 mil milhões de euros, segundo uma pesquisa feita pelo jornal Financial Times.

É um valor duas vezes superior ao Produto Interno Bruto português e que poderá estar relacionado com um tipo de turismo que vai para além dos padrões de lazer e consumo.

"Os chineses não vêm apenas em passeio, mas também à procura de oportunidades de investimento", explica Rodrigo Lin, empresário natural da China e radicado há mais de 20 anos em Portugal.

A gastronomia, o clima e um povo "afável e que recebe bem", são para Rodrigo as principais atrações do crescente número de chineses que visitam o país.

E não só: uma "maior facilidade" de obtenção de visto e preços "em conta", também ajudam a engrossar este fluxo turístico, refere.  

Em janeiro de 2015, a televisão chinesa difundiu uma reportagem intitulada "Com a subida do yuan face ao euro, é hora de visitar a Europa" – em 2008, um euro valia mais de 11 yuan; hoje, não chega aos sete.

Segunda maior economia mundial, a seguir aos Estados Unidos, a China é também o país mais populoso, com cerca de 1.350 milhões de habitantes.

Em 2014, o Governo português lançou uma campanha de promoção no país centrada na imagem de "C Luo" (Cristiano Ronaldo, em chinês), a figura portuguesa mais conhecida entre os chineses, e o Turismo de Portugal abriu uma representação permanente em Xangai.

Este ano, o mesmo organismo promoveu em três grandes cidades chinesas seminários, com a participação de doze empresas portuguesas do setor e centenas de operadores turísticos locais.

Os empregados dos cafés ou restaurantes de Lisboa e Porto não terão o ritmo a que Zhou Zhizhen está habituada no seu país, mas para a economia portuguesa, a captação de turistas chineses com pressa em pagar a conta é uma prioridade.

Lusa/SOL