Manuel Alegre estará com Maria de Belém

As presidenciais dividem de novo Soares e Alegre. Se o avanço de Maria Belém se confirmar, o histórico socialista surgirá a seu lado. No campo de Sampaio da Nóvoa, há apoiantes que hesitam.

Manuel Alegre estará com Maria de Belém

No dia em que Jardim Gonçalves tentou sair discretamente do restaurante Gattopardo, foi Mário Soares quem fez questão de se levantar para lhe dizer que nunca esquecesse do quanto eram amigos. O fundador do BCP apreciou o gesto, afinal na mesa de Soares estava José Sócrates, considerado por Jardim um dos responsáveis pela derrocada do maior banco privado português. O almoço aconteceu há cerca de dois anos e meio e na mesa estava também sentado Manuel Alegre; Jardim Gonçalves congratulou-se na altura pela paz entre os dois velhos lobos. 

Não há razões para duvidarmos de que as tréguas tenham sido colocadas em causa, mas é certo que a proximidade das presidenciais poderá colocá-los outra vez em barricadas diferentes: Alegre é um dos apoios mais firmes e ainda não declarados de uma possível candidatura de Maria de Belém. António Costa sabe-o. Mário Soares sabe-o.

Sampaio da Nóvoa não o desconhece. As fontes são insuspeitas, um membro do secretariado do PS, um amigo de sempre de Manuel Alegre, um elemento activo da pré-candidatura da ex-presidente do PS. Perguntamos da razão do silêncio de Alegre, a resposta é verosímil – nos últimos anos tem sido sujeito a muita pressão, esteve várias vezes contra a direcção do PS, deve ficar resguardado deste primeiro embate e, se for caso disso, no momento certo, surgir para criar uma vaga militante de apoio a Maria de Belém, sua mandatária nacional, em 2011. 

Sampaio da Nóvoa foi o candidato lançado por Mário Soares. Não a primeira escolha, a hipótese mais forte era a de Carvalho da Silva, nome que o socialista tinha na cabeça quando lançou as bases (com a ajuda de Osita Eleutério e de Vítor Ramalho) do Congresso da Cidadania. Soares desejava agitar o país e despedir-se da política com uma mensagem fortemente ideológica à esquerda. O ex-sindicalista era comparado nos seus círculos a Lula da Silva, a ideia foi fazendo o seu caminho. João e Isabel Soares, seus filhos, prometeram apoio a Carvalho da Silva e este convenceu-se. Mas um ‘cometa’ transformou o sonho num pesadelo. Desistiu da candidatura em 48 horas – um dos principais organizadores deste processo de intenções, membro destacado na candidatura de Fernando Nobre há quatro anos, ouviu Carvalho da Silva renunciar pela televisão quando, dois dias antes, combinara com ele detalhes estratégicos.    

O que o sindicalista achava ter pernas para andar não passava afinal de uma quimera; Sampaio da Nóvoa surgiu fulgurante e levantou o Congresso da Cidadania, Soares deixou de ter dúvidas, no momento certo o seu homem teria de ser aquele. Existia outra batalha a travar, a da destituição de António José Seguro. Contribuiu para ela, sabemo-lo bem, e ficou com um crédito em relação a António Costa. Usou-o e bem, Sampaio da Nóvoa, ex-Reitor da Universidade de Lisboa, poderia ser o candidato apoiado pelo PS. Pareceu-lhe bem. Acalmava as hostes, abria o partido à sociedade civil e ninguém se distraía do que realmente era essencial. Havia um pormenor que deveria ser evitado, diz-nos o mesmo elemento do secretariado, evitar que alguém do PS assumisse uma candidatura contra Nóvoa. Para o evitar, Costa falou com Jorge Sampaio. Os dois têm uma relação de uma enorme intimidade. O ex-Presidente não esconde que vê o actual secretário-geral quase como um filho, o seu primeiro trabalho, como estagiário de advocacia foi no escritório de Sampaio. Os dois terão falado claro, Costa garantiu-lhe que podia apoiar Nóvoa pois seria ele o candidato presidencial do PS, o anúncio ficaria para depois das legislativas. Sampaio comprou a ideia e Costa não o enganou, os dois consideraram importante que o seu avanço tornaria quase impossível ambições presidencialistas de militantes socialistas. 

Com tudo isto, e apesar da extraordinária notícia do prémio Mandela, Sampaio está incomodado. Tem recusado entrevistas, não deseja alimentar uma candidatura que apoiou talvez prematuramente (apesar de lá ter colocado Pedro Reis, seu homem de confiança) qualquer passo em falso poderá levá-lo a ter de o corrigir, não é coisa que ele ou Ramalho Eanes tenham feito por merecer. 

Quanto a António Costa, não lhe falem de dois assuntos: das presidenciais e de José Sócrates. Um pouco avisado membro da Juventude Socialista, numa reunião de apresentação das listas, resolveu dizer umas coisas e entre elas sublinhou que Sócrates era uma variável a considerar. António Costa, paciente e o mais educado que conseguiu, explicou-lhe: «Uma variável? Tem que aprender mais de geometria, Sócrates não é uma variável mas uma constante».