As escolhas de Valter Hugo Mãe, Katia Guerreiro e Jorge Silva Melo para as férias

O escritor Valter Hugo Mãe, a fadista Katia Guerreiro e o encenador Jorge Silva Melo escolhem os livros e os discos que levam na mala de férias. E nós acrescentamos algumas das obras que já estão a marcar o ano. Porque o Verão não se faz só de praia.  

Valter  Hugo Mãe
Escritor

Livros

Portugal, um país parado no meio do caminho
Miguel Real

Uma visão sempre contundente da complexa estima do país. Miguel Real é um pensador de profunda clareza que me fascina pela boa-fé com que dialoga sobre tudo quanto é fracturante na nossa identidade e na condução dos nossos destinos.

Fome
João Moita

Poesia de um autor ainda jovem, marcada por uma espécie de abordagem febril das ideias. Poemas densos, intensos, urgentes, desarmantes: «Não escrevia para não roubar tempo à leitura: aprendia a humildade. Agora escrevo, aprendo a humilhar-me».

O osso da tristeza
João Rios

Eventualmente o melhor volume do autor. Ao mesmo tempo delicado e desencantado, sempre numa ferocidade latente, estes poemas são um certo modo de embelezar a melancolia. Uma melancolia que promete sempre magoar, mas hesita perante o deslumbre do próprio discurso.

Poesia e Prosa
Judith Teixeira

Obra de uma poeta sempre marginalizada que nos explica a liberdade da mulher ao longo de um tempo em que apenas hipocritamente ela foi assim considerada. Sempre a faltar na maioria das histórias e nas antologias da poesia portuguesa, Judith Teixeira está, finalmente, disponível numa edição de rigor.

Discos

Quarto Crescente
Márcia

A mais perfeita melodista da pop portuguesa de hoje. A maturidade fica-lhe como ouro na voz, nas letras, no carinho. Ouvir Márcia é como ter uma amiga.

Língua, vol. 2
Noa Noa

Filipe Faria é dono de uma das mais educadas e belas vozes  do país. O grande público conhece-o mal. É uma profunda injustiça. Este projecto, com o brilhante Tiago Matias, é pura perfeição.

Romance(s)
Aldina Duarte

O fado tristíssimo de Aldina é posto diante do espelho da pop. Este novo disco é um tratado acerca do novo fado. Um dos perigos mais felizes de sempre. Maravilhosa Aldina entregue à maravilhosa poesia de Maria do Rosário Pedreira.

Requiem & Judas
António Pinho Vargas

Duas obras de um dos mais versáteis e preciosos compositores portugueses. Especialmente o Requiem me parece imperdível. O requinte do trabalho de Pinho Vargas é esplendoroso. Solene e muito pessoal.

 

Katia Guerreiro
Fadista 

Livros

O barulho  das coisas ao cair
Juan Gabriel Vásquez 

Uma história sobre o narcotráfico na Colômbia contada pelo colombiano Juan Gabriel Vásquez (Prémio Alfaguara 2012). Também sobre a amizade. Sobre o medo do silêncio e do ruído. Um nome da literatura sul-americana a reter! 

A definição  do amor
Jorge Reis-Sá 

O diário de um luto. Uma história sobre a morte, a vida e a beleza da esperança, que marca o regresso aos romances do meu querido amigo Jorge Reis-Sá.

Poesia Reunida
Maria do Rosário Pedreira 

Sobre os afectos. Sobre a coragem no desamor. Sobre o amor. A ler, a reler, para abrir numa página qualquer. Sempre belo!

Discos

Medusa
Capicua

Gosto da escrita da Capicua, do seu jogo das palavras. Destaco os temas ‘Medusa’, com excertos de poemas ditos por Sophia de Mello Breyner e ‘Vayorken’, que é uma delícia!

Mi Nina Lola
Concha Buika

Um dos meus discos preferidos da Concha Buika, com uma  interpretação irrepreensível  do tema ‘Volver’. Faz-me companhia em muitas viagens.

Até ao fim
Katia Guerreiro 

Levar um disco para a ‘estrada’ faz-nos voltar a ele de forma diferente, de ouvi-lo de forma diferente. Partilho o melhor de mim aqui, e mais do que ouvi-lo, tenho muita vontade de o cantar.

 

Jorge Silva Melo
Encenador

Livros

Crónicas do Mal  de Amor, A Amiga Genial, Histórias do Novo Nome
Elena Ferrante

Se eu saísse de Lisboa ia agora meter na mala os livros de Elena Ferrante que a Relógio d’Água tem vindo a editar, fantástico o Crónicas do Mal de Amor (o único que li), mas já sairam mais dois – A Amiga Genial e Histórias do Novo Nome.

Doce pássaro  da juventude
Tennessee Williams

Levava também Doce Pássaro da Juventude, de Tennessee Williams (Relógio d’Água), pois é um volume que contém quatro peças em que estou a trabalhar – e quem faz teatro não tem propriamente férias, anda a pensar no que vai fazer.

E levava os livros da Maria Judite de Carvalho que já só se encontram nos alfarrabistas, mas que tenho aqui em casa. Que imensa escritora.

Discos

Música Italiana
De música levava discos com cantigas italianas. É assim mesmo, mal o sol começa a ficar quente só me apetece ouvir Luigi Tenco, Lucio Dalla, Milly, Mina, Dalida, Gianni Morandi, Celentano… Que é que querem? Ah, se eu tivesse um descapotável, então…

E as escolhas do Sol…

Livros (por Filipa Melo)

Na Presença de um Palhaço
Andrés Barba

Os Trelles (família de Marcos, o físico que bloqueia ao tentar compor uma nota biográfica para uma revista científica) e os Cotta (a de Abel, palhaço que se tornou filho pródigo), duas famílias em crise e um retrato satírico e melancólico da Espanha de hoje, por Andrés Barba, um dos melhores ficcionistas da geração nascida nos anos 1970.

Se Eu Fosse Chão
Nuno Camarneiro

Em 1928, 1956 ou 2015, os quartos de um grande hotel assistem, e nós com eles, a um desfile de fragmentos de personagens. São muitas vidas de passagem, cuja essência é fixada pelo romancista num instante único, em photomaton cuidadoso e linguagem trabalhada. Nuno Camarneiro, prémio Leya 2012, no seu melhor.

Esta Distante Proximidade
Rebecca Solnit

«As histórias são bússolas e arquitectura […] não termos história é estarmos perdidos na vastidão do mundo», escreve Rebecca Solnit, ensaísta e activista norte-americana, por fim editada por cá. Esta Distante Proximidade é uma digressão por paisagens inesperadas, externas e internas, a partir da perda de identidade da mãe da autora, devido à doença de Alzheimer. Brilhante. 

A Esperança
André Malraux

André Malraux partiu da sua experiência como combatente de uma brigada internacional para criar A Esperança. Algures entre o testemunho e a ficção, é um retrato único da Guerra Civil espanhola, sempre na perspectiva das forças republicanas, desde a ilusão lírica inicial e do dramático cerco a Madrid até à batalha de Guadalajara, em Março de 1937.

Discos (por Alexandra Ho)

Currents
Tame Impala

Acabadinho de sair, o terceiro disco da formação australiana explora sonoridades novas, com o psicadelismo que sempre dominou o seu som a dar agora lugar aos teclados como centro de gravidade. A 20 de Agosto actuam no Paredes de Coura. 

Coming Home
Leon Bridges

O americano, que faz da soul clássica a sua criação, é uma das grandes revelações do ano. O disco de estreia saiu em Junho e a voz quente de Bridges casa na perfeição com temperaturas mais elevadas. 

Escape from evil
Lower Dens

O terceiro registo da banda americana (que em Novembro vem à Zé dos Bois) faz sobressair os sintetizadores, reforçando a estética dream pop que os tem caracterizado. E a voz melodiosa de Jana Hunter é responsável pelo restante encantamento. 

Viet Cong
Viet Cong

O rock efervescente dos canadianos não tem grandes segredos: guitarras cortantes, baixo e bateria em palpitação contínua e uma voz robusta. É música para agitar o corpo e que bem que isso faz. 

White men are black men too
Young Fathers

Venceram o Mercury Prize em 2014, mas é com este álbum que vão conquistar o mundo. A festa dos escoceses faz-se de hip hop, gospel, soul e electrónica, com temas frenéticos, selváticos e altamente dançáveis.

From Kinshasa
Mbongwana Star

Há discos que apesar de toda a febre que têm lá dentro pedem ainda mais calor. O trabalho de estreia dos congoleses, editado em Junho, é um desses casos, glorificando ainda uma vibrante sonoridade urbana.