Sínodo já fez muitos ‘mortos e feridos’

Ao “dar o microfone” a Walter Kasper para falar aos cardeais sobre a família, o Papa cometeu uma “imprudência” e “ateou um fogo” difícil de apagar. A opinião é de Duarte Sousa Lara, padre da Diocese de Lamego, que considera, contudo, que a Igreja se vai manter fiel à doutrina e não vai aprovar a…

“O Papa vai dizer o que a Igreja sempre disse porque o Evangelho é bem claro neste aspecto. Tudo o resto é anular a palavra de Jesus, implica rasgar páginas da Bíblia”, disse ao SOL o sacerdote, considerando a teoria de Kasper uma “heresia”. Sousa Lara afirma ainda que este período de debate público que decorre entre os dois sínodos – o do ano passado e o que irá decorrer em Outubro próximo – já gerou uma enorme confusão dentro e fora da Igreja. E admite que haja recasados a comungar por acharem que já é permitido: “Por isso, mesmo que o Papa não subscreva essa posição, neste período já houve muitos mortos e feridos”.

A polémica instalou-se quando foi divulgado o relatório preliminar do sínodo do ano passado, que apontava esta proposta de Kasper como um caminho a adoptar pela Igreja Católica. “Muitos bispos revoltaram-se porque o documento não expressava a opinião do sínodo. Mas a ‘bomba’ já tinha sido lançada”, afirma Sousa Lara, criticando os organizadores da reunião.Depois disso, a troca pública de argumentos intensificou-se com padres, bispos e cardeais a cerrarem fileiras.

Gonçalo Portocarrero de Almada também considera que “já não vai ser possível solucionar esta questão de forma pacífica. Qualquer que seja a posição do Papa haverá sempre vencedores e perdedores”. O padre doOpus Dei diz que as posições se extremaram muito e que há um risco de dissidência grave no seio da Igreja. Se a doutrina for mantida, há, por um lado, o risco de “alguns avançarem no caminho inverso”, como, por exemplo, os bispos alemães que já ameaçaram não cumprir essa orientação. E por outro, o risco de os grupos mais extremistas e conservadores “capitalizarem essa posição”, sagrando-se vencedores.

Progressistas aplaudem abertura da Igreja e pedem mais

Entre padres e fiéis, este tema também está a criar preocupação e divisão. Uns aplaudem a abertura da Igreja a novas soluções para a família, lamentando até que “o Papa não possa fazer todas as reformas ao mesmo tempo e incluir outros temas como o fim do celibato ou a ordenação das mulheres”, como defendeu aoSOL Maria JoãoSande Lemos, do Movimento Internacional Nós Somos Igreja, considerado um dos mais progressistas a nível mundial.

Do outro lado, os mais conservadores “temem que os valores que a Igreja sempre defendeu estejam a ser postos em causa”, como explicou aoSOL ManuelVaz Patto, padre da Diocese de Coimbra. Por isso, assinaram uma petição ao Papa Francisco onde lhe pedem “uma palavra esclarecedora” e que recuse a admissão dos recasados à eucaristia e as uniões homossexuais. Entre os subscritores portugueses da Filial Súplica a Sua Santidade o Papa Francisco sobre o Futuro da Família, que teve origem em Roma e está a circular pela internet, está aquele sacerdote de Coimbra. Com apenas 27 anos, Manuel Vaz Patto garante ainda que é entre os padres mais jovens que se encontram os defensores dos ideais mais conservadores. 

rita.carvalho@sol.pt