Aeroporto no Montijo: Ryanair apoia, Easyjet e Transavia preferem Portela

O Governo e a gestora aeroportuária ANA já assumiram que estão a estudar a base aérea do Montijo para instalar as companhias aéreas de baixo custo e complementar a operação da Portela. Mas essa opção parece não satisfazer todas as transportadoras low cost.

Entre as principais operadoras que agora estão no terminal 2 do aeroporto de Lisboa, a Ryanair vê esta opção com bons olhos. Já a Easyjet e a Transavia admitem estudar a hipótese, mas preferem estar mais próximas do centro da cidade.

«A Ryanair já confirmou ao Governo que apoia o desenvolvimento do aeroporto do Montijo como aeroporto independente, secundário e low cost para Lisboa, de modo a concorrer com a Portela», admite ao SOL fonte oficial da empresa irlandesa. E acrescenta que «o desenvolvimento do Montijo é indispensável para o tão necessário crescimento do tráfego em Lisboa nos próximos anos».

A Ryanair tem uma base em Lisboa, onde é a segunda maior companhia – a seguir à TAP – e diz-se «muito satisfeita» com os níveis de crescimento que tem atingido na capital portuguesa. No entanto, adverte a mesma fonte, «os níveis de tráfego de passageiros tem sido artificialmente restrito, principalmente devido ao controle de tráfego aéreo e, em menor grau, pelas restrições de infraestrutura». E isso, «infelizmente resulta no congestionamento durante algumas horas do dia».

Por isso, e embora lembre que se o Montijo for efectivamente escolhido, terá de «avaliar os custos e infraestruturas dos dois aeroportos antes de decidir», a Ryanair «está confiante que o aumento da concorrência levará  a uma melhor gestão de ambos os aeroportos». E defende que «deveria ser gerido de forma independente».

Já a Easyjet e a Transavia têm dúvidas quantos aos benefícios desta escolha, tal como o SOL já noticiou sexta-feira, na sua edição impressa.

«Os nossos passageiros pretendem chegar rapidamente ao seu destino e não a um aeroporto que fique a 50 ou 100 kms de distância do destino final», começa por afirmar ao SOL fonte oficial da Easyjet, que também tem uma base no terminal 2. E continua: «Por isso, e tal como temos vindo a dizer, a Easyjet pretende manter a sua operação no terminal 2 do Aeroporto de Lisboa, um aeroporto central e com óptimos acessos, vantagens muito importantes para captar turistas e passageiros de negócio».

A companhia britânica, a terceira mais importante no aeroporto de Lisboa, não exclui a possibilidade de avaliar uma «eventual mudança para outro aeroporto». Mas frisa que essa hipótese «terá de ser analisada no momento em que se concretize, pois poderá ter consequências não só no turismo, mas também nas viagens de negócios». Até porque a Easyjet prefere estar em aeroportos principais.

Elevado cepticismo

Também Hervé Kozar, director comercial da Transavia, vê «a possibilidade de mudar para o Montijo com um alto grau de cepticismo».

«Estamos sempre abertos a novas propostas que possam trazer valor acrescentado aos nossos passageiros», admite, realçando que sempre houve «uma relação de mútua confiança e cooperação com a ANA, antes e depois de ser adquirida pela Vinci».

Porém, salienta que um aeroporto próximo do centro da cidade e com transportes públicos – como o de Orly, em Paris, ou o da Portela – é um dos pilares do modelo de negócio da low cost do grupo Air France-KLM.

Em declarações ao SOL, Hervé Kozar valoriza o «sucesso» das ligações diárias que a Transavia assegura para França e Holanda a partir do terminal 2: a oferta de lugares de e para Lisboa subiu cerca de 20% face ao primeiro semestre de 2014.

«Portugal é o primeiro mercado da Transavia a partir de França e o segundo a partir da Holanda. Esperamos ultrapassar os 1,5 milhões de passageiros em 2015», realça.

Como convencer as low cost?

O SOL sabe que a ANA tem mantido conversações com as companhias aéreas quanto a uma eventual passagem para o Montijo. Mas não são ainda conhecidos os modelos e condições que estarão em cima da mesa para concretizá-la. Entre os factores decisivos para convencer as transportadoras estará sempre o valor das taxas a cobrar e a simplificação da operação, sobretudo quanto ao embarque e desembarque de passageiros.

O secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, afirmou recentemente, em entrevista ao Expresso, que o projecto do Montijo «está numa fase preliminar», mas que esperava «até ao final da legislatura assinar o memorando de entendimento onde se fixe em definitivo a localização Montijo».

ana.serafim@sol.pt