Os Perdigões estão esta semana de portas abertas ao público, permitindo conhecer no local o trabalho que está a ser feito e o museu instalado na torre medieval da herdade, disse à Lusa a arqueóloga Mafalda Capela.
Na sexta-feira, realizam-se "workshops" de manufatura de cerâmica e de adornos pré-históricos, assim como uma ceia neolítica, sugerindo o tipo de alimentação das populações que viveram nos Perdigões, há 5.000 anos.
"Moldando a argila, as pessoas com o apoio de um arqueólogo, usando as mesmas técnicas da Pré-História e o mesmo tipo de barros, vão poder fazer peças de cerâmica, e o mesmo relativamente aos adornos, com o fabrico de colares, brincos e pulseiras, com recurso a matérias-primas que eram usuais neste período", disse a arqueóloga.
A fechar o dia "é servida uma ceia neolítica" constituída por "carne com mexilhões, amêijoas, berbigão e lambujinha, cozinhada numa estrutura de cuvete forrada a seixos do rio previamente aquecidos, e coberta por uma pele de animal e folhas".
Da ementa, fará ainda parte "coelho temperado com ervas, cozinhado com cogumelos e acompanhado com lentilhas cozidas em panela de barro neolítica, truta salmonada temperada com ervas aromáticas, enrolada em folhas largas e cozinhada sobre casca de árvore coberta com argila".
Será igualmente servido "coelho na grelha de madeira sobre o fogo, barrado permanentemente com mel e ervas, até estar pronto", um "naco de carne de vários quilogramas espetado em paus", cozinhado no fogo durante várias horas, e os "acompanhamentos: frutos silvestres, frutos secos, águas e infusões", especificou Mafalda Capela.
A ementa foi concretizada com base nos dados provenientes das escavações, segundo a arqueóloga.
No sábado, durante a visita ao complexo, o público vai poder diretamente falar com os arqueólogos, que estão a trabalhar no terreno, antes da visita ao museu.
Os visitantes poderão, depois, participar numa conversa com o arqueólogo responsável pelas escavações, António Valera, sob o mote "Religião, animismo ou totemismo: aspectos das produções iconográficas dos Perdigões", disse Mafalda Capela.
À tarde é realizada uma demonstração de práticas pré-históricas, pelo arqueólogo Pedro Cura, como talhe de pedra e fazer fogo com pirite e madeira, assim como manufatura de cerâmica mais complexa.
Estas iniciativas promovem "um vínculo entre o visitante e o processo de investigação, o que é muito importante e gratificante", sublinhou a arqueóloga à Lusa.
"As pessoas quando vêm pela primeira vez [ao sítio das escavações], vêm um pouco sem convicção, mas depois não deixam de vir e passam a palavra, e ganham a noção de que a arqueologia é um processo em evolução, e de que todos os anos há coisas novas".
A ideia destes "dias abertos", explicou à Lusa a arqueóloga Mafalda Capela, "é sensibilizar a comunidade local e fazer um encontro com as suas origens".
"Falar dos Perdigões causa maior impacto fora das fronteiras do que em Portugal", disse a arqueóloga, lembrando que, ao contrário de "Inglaterra, França ou Espanha", aqui "o complexo é ainda pouco conhecido, e não tem o impacto que deveria ter – daí procurarmos aproximar as pessoas ao sítio arqueológico", concluiu.
Lusa/SOL