O mundo a seus pés

Quando em 2014 a blogger italiana Chiara Ferragni, que arrasta mais de um milhão de seguidores (só no Facebook), colocou um post em que aparecia com umas Josefinas Gato Cheshire feitas em São João da Madeira por uma arquitecta de 31 anos de Vila Nova de Gaia, o mundo ficou a saber que em Portugal…

Não foi preciso esperar muito por mais novidades. Depois da mais seguida das bloggers, vieram as revistas. A Instyle, a Elle, a Vogue ou a W Magazine – em cidades tão diferentes como Nova Iorque, Hong Kong ou México – descobriram o projecto e apaixonaram-se por ele, partilhando centenas de fotografias nas suas redes sociais. “Como o fazemos é algo de que posso falar muito pouco, mas garanto que, mal conhecem a marca, sabem que é especial e que é de ter debaixo de olho – e nos pés”, brinca Filipa Júlio.

A arquitecta, hoje com 32 anos, tem a empresa bem estruturada, garantindo que nenhum pormenor é deixado ao acaso. Ao seu lado está a sócia, Maria Cunha, que conheceu no tal concurso de ideias em 2013, “ao estilo Shark Tank”, e que se ocupa da gestão da marca. A criatividade vem toda de Filipa que, por ter feito ballet durante mais de 10 anos, sempre se encantou com as pequenas ballerinas que calçava.

Já o nome vem de família. “Josefinas por causa da minha avó, Josefina. Foi em sua honra que baptizei as Josefinas. Era a minha avó quem me levava a passear pelas ruas do Porto, era ela quem me levava para as aulas de ballet, e foi ela quem me incentivou a nunca desistir dos meus sonhos. Não acredito que haja nome mais gracioso e elegante que pudesse representar as Josefinas”, adianta.

Depois da primeira colecção, composta por 12 pares de cores básicas, com nomes como ‘Preto Saudade’, ‘Vermelho Paixão’ ou ‘Azul Atlântico’, Filipa alargou a produção com padrões e mais seis cores. Até que no Inverno de 2014 lançou a colecção que conquistou Chiara. Inspirada em ‘Alice no País das Maravilhas’, apresentou modelos como ‘Rainha de Copas’, ‘Alice’ ou ‘Coelho Wonderland’. Mas a grande revolução aconteceu já este ano quando apresentou o modelo ‘mais caro do mundo’. “As Josefinas Sal Azul Persa são, de facto, as mais caras do mundo, mas acima de tudo foram um manifesto ao savoir-faire. São criadas por mãos que contam anos de história na arte de bem fazer sapatos. Na realidade, não são sapatos; são peças de arte, são jóias para os pés. Por esse motivo, as Josefinas Sal Azul Persa são adornadas com uma bela jóia, criada à mão a partir de ouro e topázios azuis”, explica.

E para que não restem dúvidas que, mais do que um golpe de marketing, há quem esteja disposto a pagar 3.369 euros por um par forrado a veludo azul, com pormenores a ouro e topázio, numa luxuosa caixa de madeira, a responsável pela comunicação da marca, Sofia Oliveira, esclarece: “Sim, já vendemos para os EUA”. É, aliás, para o mercado norte-americano que seguem 35% das vendas.

Quem recebe um par de Josefinas recebe mais do que uma caixa de sapatos. Todo o packaging da marca é cuidado. Além da caixa e de um bolsa de linho para guardar os sapatos, Filipa e a equipa acrescentam sempre um miminho, como por exemplo bombons da Avianense, a mais antiga fábrica de chocolates em Portugal, em funcionamento desde 1914. “Todas as mulheres que calçam Josefinas são especiais, sejam elas as maiores trendsetters mundiais (como foi o caso da Leandra [Medine, do blogue The Man Repeller] ou da Chiara), sejam elas as nossas clientes”, defende Filipa Júlio.

Josefinas solidárias

O mês de Agosto arrancou com mais uma novidade. Filipa associou a sua marca à Women for Women International (WFWI), uma organização internacional que transforma a vida de milhares de mulheres em situação de risco, oriundas de países em guerra e conflito iminente. “As mulheres apoiadas pela WFWI lutam, diariamente, pela sobrevivência. Elas necessitam de apoio, pois sem meios para se sustentarem não há futuro nem para elas, nem para os seus filhos”, afirma Izzy Clark, Supporter Development Officer da organização. “Além de protecção, a WFWI garante-lhes os meios necessários para começarem um pequeno negócio ou aprenderem um novo ofício, de modo a se tornarem independentes”. De modo a contribuir para esta causa, as Josefinas lançaram a Women for Women, uma edição de dois pares de Josefinas iguais, de pontas cravadas com cristais. “Quando ambos os pares se unem, frente a frente, os cristais dão origem a um círculo perfeito, símbolo do universo exclusivo da amizade entre mulheres. Um dos pares é seu; o outro para a sua melhor amiga. E ao celebrarem a vossa amizade, celebram a mudança na vida destas mulheres. Nós já ajudámos três, mas queremos continuar este movimento!”. E por cada 20 mil partilhas, a Josefinas compromete-se a ajudar mais uma mulher. Neste momento já apoiaram Providence Uwamariya, Emilienne Muragijimana e Devothe Niyigena, do Ruanda.

Filipa destaca: “Quero que as Josefinas cheguem aos pés de mulheres fortes e aventureiras e que as acompanhem na conquista do seu mundo. O nosso mote é ‘Onde te levam as tuas Josefinas?’, porque com as Josefinas chegará onde quiser”. 

patricia.cintra@sol.pt