Chineses hesitaram com o Novo Banco

Carlos Costa tem uma decisão complicada para tomar – provavelmente apenas superada em grau de importância pela que abriu os telejornais há um ano, quando determinou que o BES iria transformar-se no Novo Banco. A venda da instituição será decidida nas próximas semanas e o período de negociação suplementar que o governador do Banco de…

Chineses hesitaram com o Novo Banco

A Fosun e a Anbang chegaram à fase final do processo de venda do Novo Banco tendo como terceiro rival um fundo de investimento norte-americano, o Apollo Global Management. As propostas iniciais pelo banco de transição foram feitas há um mês e ficaram abaixo dos 4,9 mil milhões que foram injectados no banco que resultou da cisão do antigo BES.

Os candidatos tiveram oportunidade de melhorar as propostas pelo Novo Banco até sexta-feira passada, dia 7 de Agosto, depois de o BdP ter optado por prolongar a fase de negociação de propostas. Apenas o Apollo o fez.

Fontes do mercado bancário indicaram ao SOL que os assessores financeiros dos investidores chineses não esconderam a preocupação com as contingências ligadas ao antigo BES e aos problemas por resolver, como o reembolso do papel comercial.

Quer a Fosun quer a Anbang não melhoraram as propostas, apenas clarificaram as ofertas – que têm múltiplas cláusulas de protecção contra eventuais perdas, algo que o BdP quer clarificar para ter uma base comparável de avaliação. Mas, tanto ou mais do que a blindagem da compra contra contingências, os representantes dos investidores asiáticos temeram os danos reputacionais com o caso do papel comercial, que afectam a normal prossecução do negócio.

 

Receios dos assessores

Há, entre os assessores financeiros dos chineses, quem não esconda a falta de entusiasmo com o Novo Banco e admita até que o melhor desfecho seria o processo não se concretizar, esperando por uma melhor oportunidade. Aos investidores chineses causam apreensão frases como a que constava na semana passada numa carta aberta dos lesados do papel comercial: «Se vos disseram que os clientes do papel comercial não têm o direito a ser reembolsados pelo Novo Banco ou por quem o vier a comprar, não acreditem!».

Apesar de terem reservas financeiras elevadas, os grupos chineses que costumam investir fora do país asiático não são os típicos investidores de risco. Pequim não gosta de surpresas e acima de tudo prefere negócios com retorno certo e sem sobressaltos. Basta olhar para as empresas que têm vindo a adquirir em Portugal: a EDP, a REN ou a seguradora Fidelidade são das que mais estabilidade de resultados apresentam.

E, embora o negócio do Novo Banco abra uma oportunidade, Portugal já não é a única porta de entrada no mercado bancário europeu. Há dias, a Anbang anunciou a compra do banco holandês Delta Lloyd Bank.

Com as resistências dos chineses, o fundo americano Apollo foi o único candidato a melhorar a oferta. Em Portugal, este fundo de investimento já comprou a Tranquilidade, a seguradora do antigo grupo da família Espírito Santo, pelo que a nova aquisição poderia gerar escala e sinergias. Tem um problema: o Apollo é um fundo e tem um perfil mais volátil a que o regulador torce o nariz.

No caderno de encargos, o preço não é o único critério de venda. Os planos estratégicos e de desenvolvimento para o Novo Banco e a estabilidade do sector financeiro serão pontos determinantes na avaliação do BdP.

O regulador prefere entregar um quinto do sector bancário português a uma entidade com historial no sector. Para ultrapassar esta reticência, a solução poderá ser o Apollo aliar-se a um banco e formar uma parceria para comprar o Novo Banco – o caderno de encargos dá «ampla margem de discricionariedade» ao BdP para impor condições a consórcios.

 

Prova de fogo para Carlos Costa

Com o limite final de entrega de propostas, aproxima-se uma data-chave para Carlos Costa. Reconduzido como governador sob forte contestação da oposição, depois de a comissão de inquérito ter apontado para falhas do regulador na supervisão do BES, a venda do Novo Banco ditará se haverá perdas a registar.

Se o valor de venda ficar abaixo dos 4,9 mil milhões de euros, o remanescente terá de ser assegurado por contribuições dos bancos que financiam o Fundo de Resolução.

O Estado entrou com 3,9 mil milhões mas será o primeiro a receber o dinheiro da venda. Uma vez recebidas as propostas, o BdP deve tomar uma decisão dentro de semanas, mas a avaliação das diferentes entidades reguladoras, como a da Concorrência, levará meses.

joao.madeira@sol.pt