O mercado de transferências de futebol

Recentemente, a FIFA publicou um Relatório Global de Mercado de Transferências na época 2015/2016, que examina as transferências internacionais de futebol envolvendo os 5 principais campeonatos europeus (o denominados Big 5), Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Espanha.

Este estudo foi efetuado com base em dados oficiais introduzidos no Sistema Internacional de Transferências de Futebol (ITMS), em que se destacaram as principais tendências e se estabeleceram diversas comparações entre os países que compõem o Big 5.

Com efeito, a cerca de duas semanas do fecho de mercado – onde normalmente as coisas aquecem e surgem surpresas inesperadas –, sem grande estranheza Inglaterra foi o maior país exportador de futebolistas profissionais até à data, mas também o que mais comprou e o que mais gastou em transferências de jogadores de futebol.

Com base no referido relatório, desde o início de Junho de 2015, cerca de 3.000 transferências internacionais foram concluídas no mundo todo. Porém, pela primeira vez, este número é inferior ao registado no mesmo período homólogo de 2014, e representa, pela primeira vez também, desde 2011, um decréscimo nos montantes aplicados em transferências internacionais. São os dados mais relevantes do relatório: uma diminuição de 7% nas transferências registadas e de 18% no volume de verbas movimentadas.

A tendência para retracção de investimento mantém-se, se cingirmos a análise apenas ao clubes do Big 5, que até final de Julho investiram menos 21% do que no período homólogo em 2014.

Para esta quebra no mercado, a nota mais significativa prende-se com a invulgar passividade dos clubes espanhóis, que até final de Julho efetuaram apenas 80 contratações, contra as 188 dos clubes ingleses e as 153 dos alemães.

O Brasil é o terceiro mercado mais ativo (131 jogadores contratados), promovendo, tal como há um ano, muitos regressos de jogadores de valor que jogavam noutros campeonatos, sobretudo, na Europa.

Todavia, Inglaterra lidera em quase todas as outras categorias, com destaque para o volume de investimento (375 milhões), que supera a soma dos investimentos dos clubes espanhóis e italianos (175 milhões para cada).

Uma das notas mais curiosas deste relatório prende-se com a emergência da China como potência compradora (75 milhões), sendo já a quinta Liga mundial em volume de investimento na contratação de jogadores.

O futebol inglês tem também o maior número de saída de jogadores (177 nestes cerca de dois meses), contra 148 de França, 147 de Espanha e 133 de Portugal, que é surpreendentemente a quarta liga mais exportadora nas contas da FIFA. Os clubes ingleses são também, a larga distância, os que pagam mais comissões a empresários (30 milhões de euros), contra apenas 750 mil euros declarados pelos clubes franceses.

Note-se ainda que a Liga portuguesa permanece como a mais lucrativa deste Verão, tendo angariado mais de 230 milhões de euros em vendas para o estrangeiro.

Depois do campeonato português segue-se o francês, com 180 milhões de euros, o espanhol (120 milhões), o alemão (120) e o holandês (100).

Até ao momento, no top 3 das transferências internacionais aparecem: Raheem Sterling, que se transferiu do Liverpool para o Manchester City a troco da módica quantia de €62,5M, seguindo-se Christian Benteke, do Aston Villa para o Liverpool por 46,5M, e no último lugar do pódio surge Roberto Firmino, que se transferiu do Hoffenheim também para o Liverpool por ‘míseros’ €41M.

A nível interno, o FC Porto encaixou, só com Danilo (Real Madrid) e Jackson Martínez (Atlético de Madrid), cerca de 67 milhões, enquanto o Benfica, a título exemplificativo, facturou 37 milhões só com as transferências de Ivan Cavaleiro, João Cancelo e Lima.

O Sporting, por sua vez, também já vendeu Cédric (Southampton) por 6,5 milhões e Naby Sarr (Charlton), num negócio que pode chegar aos 2,5 millhões.

Já o Sp. Braga transferiu Éder e Zé Luis, ambos por 7 milhões, a Swansea e Spartak de Moscovo, respetivamente.

Porém, dúvidas ainda permanecem sobre a manutenção de Alex Sandro (FC Porto), William Carvalho (Sporting) ou Nico Gaitan (Benfica), pelo que o mercado nestas duas últimas semanas entra na sua fase decisiva e, seguramente, verificar-se-ão alterações mais ou menos profundas, nos plantéis dos principais clubes de futebol português.

No campeonato português, registe-se ainda que os jogadores de nacionalidade brasileira continuam a ser o maior contingente de atletas estrangeiros, com mais de uma centena de jogadores de futebol inscritos, enquanto Cabo Verde passa a ser o segundo país mais representado.

Deste modo, o campeonato português continuará a disputar-se com ‘sotaque brasileiro’, com as 18 equipas da 1.ª Liga a contarem, até ao momento, com 117 jogadores vindos do outro lado do Atlântico. O Sporting de Braga domina, sendo o mais ‘canarinho’ com 12 inscritos, mais um do que o Estoril-Praia. Os ‘três grandes’, com 16 brasileiros entre si, não têm jogadores dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), embora tenham vários atletas com origens africanas e até com dupla nacionalidade.

Infelizmente, e não obstante a crise económica na sociedade portuguesa evidenciada nos clubes de futebol, e com o estudo da FIFA a demonstrar que somos uma assinalável potência exportadora de jogadores de qualidade inequívoca, ainda existem pessoas que não perceberam que, o “produto” nacional…é bom… mais barato…e pode dar milhões. 

Lúcio Miguel Correia é docente de Direito do Desporto da Universidade Lusíada de Lisboa