O deserto tunisino chegou às praias

Atingido por dois grandes ataques antes do pico do Verão, o turismo tunisino está a sentir como nunca a fragilidade das instituições políticas do país, ainda em processo de ajustamento após a revolução que em 2011 acabou com 54 anos de regime autocrático, primeiro com Habib Bourguiba e depois com Ben Ali.

A debandada de turistas que se seguiu ao ataque de Sousse, que a 26 de Junho matou 38 turistas numa praia da região, não foi travada pelas medidas de segurança imediatamente anunciadas. A presença da Polícia Turística entre estrangeiros de fato-de-banho não foi o suficiente para, 15 dias depois do ataque, evitar que o Governo britânico emitisse um aviso aos cidadãos para não viajarem para a Tunísia, pois considerou que as medidas anunciadas “não garantem a segurança adequada”. Uma mensagem repetida noutras capitais, dentro e fora da Europa.

Sem dados sobre o impacto na economia do país – onde o sector turístico representa quase 20% da riqueza nacional -, há números que já ajudam a antecipar o efeito: na apresentação dos seus resultados trimestrais, a Tui, maior agência de viagens do mundo que leva cerca de 500 mil britânicos à Tunísia por ano, confirmou a perda de “entre 35 e 40 milhões de euros” em viagens canceladas para este país do Norte de África. 

“Só voltaremos à Tunísia quando o ministério mudar a sua posição. E mesmo aí a decisão dependerá da nossa percepção e da vontade demonstrada pelos clientes”, avisou o CEO Peter Long, para pânico das autoridades e hoteleiros. Em reportagem publicada no passado domingo, a AP descrevia as praias “abandonadas pelos europeus”, visitadas agora por “tunisinos locais e argelinos de passagem”. O contraste com os verões anteriores é tal que os tunisinos estão a ser seduzidos pelos resorts de luxo que normalmente se enchem de turistas, embora a maioria recuse as ofertas de desconto, pois costumam ser proibidos de frequentar esses espaços, segundo reportagem de Frances Stonor Saunders para a BBC.